Exército israelita vai convocar 1.000 jovens ultraortodoxos para recrutamento
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou hoje ao Exército para enviar no domingo 1.000 convocatórias a jovens da comunidade ultraortodoxa para o recrutamento militar, uma medida rejeitada por este grupo religioso.
"Espera-se que no domingo seja emitida a primeira fase de cerca de 1.000 ordens de recrutamento para jovens entre os 18 e os 26 anos, e esperam-se fases adicionais nas próximas semanas", indicou o Ministério da Defesa num comunicado, no qual se refere que esta decisão obedece a uma "recomendação" do Exército.
Gallant disse que as datas das duas seguintes fases de avisos de recrutamento "serão determinadas de acordo com a capacidade de resposta da população ultraortodoxa", indicou a mesma nota informativa.
O Exército israelita -- que atualmente necessita de 10.000 novos recrutas -- espera cooptar cerca de 3.000 jovens ultraortodoxos numa população calculada de 63.000 em idade militar. Estes recrutas, uma vez que têm requisitos especiais, nomeadamente no que diz respeito à alimentação e ao convívio com mulheres, deverão ser inseridos em batalhões especiais.
Na terça-feira, o Exército tinha anunciado o início deste processo para o próximo domingo, mas não tinha precisado a extensão da convocatória.
As autoridades militares "estão a trabalhar para recrutar pessoas de todos os setores da sociedade no âmbito das condições de recrutamento em Israel, devido à sua condição de Exército popular e atendendo às crescentes necessidades operativas no atual momento, devido aos desafios de segurança", indicou a mesma fonte.
O Exército pretende recrutar de início os menos radicais, incluindo os que possuem emprego, estudam nas universidades ou possuem carta de condução, um indicador de que não consagram todo o seu tempo aos estudos religiosos.
Em paralelo, 85% dos novos recrutas serão solteiros e colocados, na sua maioria, em missões de combate, indicaram os 'media' locais, citando fontes militares.
Os judeus ortodoxos ('haredi') protagonizaram nas últimas semanas numerosos protestos contra a integração forçada dos seus jovens no Exército, após o Supremo Tribunal israelita ter ordenado ao Governo medidas para aumentar o número de jovens religiosos chamados para o serviço militar obrigatório.
Na terça-feira, e após o anúncio do Exército, dezenas de ultraortodoxos bloquearam uma autoestrada em Bnei Brak, centro de Israel, uma manifestação que a polícia qualificou de "ilegal", ordenando a sua dispersão.
Os ultraortodoxos que ignorem as ordens de recrutamento não poderão sair do país e arriscam ser detidos pela polícia militar.
Desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, que os jovens que estudam a tempo inteiro numa escola talmúdica ('yeshiva') estão isentos do cumprimento do serviço militar, que é obrigatório para grande parte da sociedade israelita (os árabes israelitas, cerca de 21% da população, também estão isentos).
Esta medida, que até há poucos meses foi prorrogada por legislação especial, constituiu desde sempre motivo de controvérsia, que se acentuou na sequência da atual guerra na Faixa de Gaza e da escalada de violência na fronteira com o Líbano, envolvendo o movimento xiita Hezbollah.
Estas situações têm gerado uma crise de efetivos no Exército israelita.
Há três semanas, o Supremo Tribunal decidiu "não existir base legal para excluir os homens ultraortodoxos do recrutamento", deliberando na mesma ocasião que caso não sirvam no Exército também devem deixar de beneficiar de subsídios educativos e assistência social financiados com fundos públicos.