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Em Julho 2024

O voto é no partido, não nas pessoas individualmente! O que vem depois são joguinhos de poder entre algumas pessoas que julgam poder decidir a seu belo prazer o que interpretam como “o sentido do voto”

Julho, em plena silly season, tanta coisa a acontecer. Ele é o Campeonato da Europa de Futebol,

Ele é o programa do sr. governo,

Ele é um orçamento regional que já podia estar resolvido há bué...

com os habituais treinadores de bancada e especialistas em todas as áreas onde opinar é coisa que melhor sabem fazer e que são o que mais há por aí!

Mas o que se sentiu foram vários enormes vazios, de linhas cheias de nada para podermos preencher os espaços que se prometiam cheios de aventuras e desventuras…

Prometia ser um mês com muita parra e muito sumo! Mas…

Começo com uma excepção aos vazios sentidos: a Selecção de Futebol.

É fácil dizer mal da forma como o Cristiano jogou ou de como o treinador formou as equipas que jogaram!

O difícil é estar no lugar deles.

Não estou lá!

Não sei os porquês das escolhas e das opções.

Uma coisa sei: não me abstenho quando tenho de expressar a minha opinião nem quando defendo as minhas opções.

Quando todos os inúmeros “treinadores de bancada” opinam, não se abstêm de querer fazer valer a sua opinião, mas muitos provavelmente abstêm-se de votar quando chamados a dizer de sua justiça numa eleição.

A Selecção jogou bem, sim.

E foi eliminada, sim.

E jogou com galhardia, sim!

E não, não deixou um vazio, deixou tristeza pela eliminação, não derrota, deixou desencanto por não ter conseguido ir mais longe, mas cumpriu com o que lhe era exigido: representar galhardamente Portugal!

Então vieram os vazios:

Poderíamos começar por falar sobre legitimidades…

Um dos pilares da democracia é a expressão da vontade popular através do voto secreto e universal, e quem tem mais votos, etc. e tal.

Nunca, apesar de saber ser possível, me passou pela cabeça outra coisa. Mas é possível, e em Portugal isso foi demonstrado por António Costa quando resolveu cozinhar uma geringonça com partidos que seriam improváveis à partida, e em Espanha quando Pedro Sanchez se uniu aos independentistas catalães que sempre repudiou. Tudo isto foi considerado legítimo e fazendo parte das artes parlamentares democráticas.

No plano regional estamos experimentando experiências de legitimidades que, mesmo sendo contranatura, são legítimas à luz da “normalidade” democrática.

E o que sentimos foi um enorme vazio… legítimo, mas vazio de conteúdo, do conteúdo que poderíamos esperar perante as circunstâncias que encheram páginas de jornais e minutos de telejornais!

Poderíamos em seguida falar de ética, da ética democrática, da ética social, da ética pessoal, quando se foram dando os ditos por não ditos, quando tanto se apela à não abstenção na altura de colocar o voto nas urnas, isto é, nas eleições que, quando passadas, fazem com que os ditos representantes que se acham galhardamente eleitos, uma vez empossados, fazem exactamente o que pouco antes conjuravam: abestam-se em coisas que não se deviam abestar e opinam em coisas em que não deveriam opinar (o “abestam-se” e “abestar” não são gralhas de escrita, era assim que um colega nas Reuniões Gerais de Alunos - ou de curso - dizia quando contava os votos de uma determinada votação: quem vota a favor, quem vota contra, quem se abesta).

Se lutamos para que a abstenção não seja um facto quando vamos a votos, porque havemos de aceitar que a mesma seja “desculpável” quando há que decidir entre um “sim” e um “não”?

A Selecção jogou bem, sim.

E foi eliminada, sim.

E jogou com galhardia, sim!

Com a galhardia que faltou a quem não diz “sim” ou “não”!!

E criou-se mais um vazio…

quando se juntam os pró e os contra, agora sem sinais de eventuais abestações, tentando segurar abertamente o que a expressão do voto popular lhes deu e que lhes pode tirar em caso de nova consulta ao sentir do povo: novas eleições onde todos têm medo de sair a perder, deixando-nos mais uma vez com um enorme vazio de credibilidade, quando todas as opções passam a ser legítimas.

Todos têm o direito de puxar a brasa à sua sardinha porque as normas da democracia parlamentar assim o aceitam.

O que não deveriam ter seria o direito de infernizar a paciência geral com joguinhos de poder ou de salvaguarda de interesses pessoais.

Tudo legítimo, com todos a quererem agarrar as rédeas do poder com as unhas e os dentes que vão podendo descobrir em qualquer vírgula regimental!

Espero no entanto que os Srs. Políticos não se esqueçam que os votos são postos num quadradinho que está à frente do nome de um partido ou coligação. O voto não é nominal nem é personalizado: é numa lista que tem muitos nomes, a maioria completamente desconhecidos para quem vota.

O voto é no partido, não nas pessoas individualmente!

O que vem depois são joguinhos de poder entre algumas pessoas que julgam poder decidir a seu belo prazer o que interpretam como “o sentido do voto”, que tem sempre a leitura que mais convém a cada pessoa que foi eleita numa lista comum, que pode não ser coincidente com a conveniência da maioria das pessoas dessa lista, e muito menos a quem votou de boa-fé, para que não nos fique a sensação de vazio perante aquele espectáculo deprimente de estarem todos a dizer mal uns dos outros sem mostrarem um mínimo entendimento, com a posição a dizer que o ónus é da oposição e a oposição a colocar o dito ónus na posição.

Digam ao que vão, votem e está feito. Para isso não são necessários dois ou três dias. Basta meia manhã!

E façam-no como a Selecção fez: com galhardia!