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País

Atlântico pode reafirmar-se geopoliticamente através da Europa, África e América Latina

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Foto RUI MINDERICO/LUSA

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, insistiu hoje na ideia de que o Atlântico pode ter uma nova afirmação geopolítica através da cooperação entre Europa, África e América Latina, podendo assim rivalizar com o Pacífico.

Durante a cerimónia de apresentação dos vencedores da "I Convocatória de Projetos e Iniciativas de Cooperação Triangular entre a Ibero-América e os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP)", que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, o ministro disse ser "fundamental, para o desenvolvimento da comunidade ibero-americana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a cooperação triangular feita entre a América Latina, África e a Península Ibérica".

"Podemos criar uma nova centralidade no mundo, deixando para trás o Pacífico", disse.

A convocatória, financiada pelo Governo de Portugal, através do Fundo de Cooperação Triangular Portugal/América Latina/África, que foi formalizada entre o Camões, I.P. e a Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB), visa apoiar projetos e iniciativas de cooperação triangular, focados no desenvolvimento de capacidades estratégicas e na troca de experiências, nas áreas da educação, saúde, igualdade de género, alterações climáticas, segurança alimentar, cultura, coesão social, transformação digital e educação para o desenvolvimento.

A nova presidente do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, Florbela Paraíba, salientou que este foi um marco significativo na História portuguesa e na das entidades representadas na cerimónia.

A convocatória "é um instrumento para a coesão destas três áreas diversas que enfrentam desafios comuns", declarou.

"Podemos dizer que os resultados do primeiro concurso foram um sucesso e esta é a prova clara do interesse em aproximar estas regiões. Um dos requisitos era a inclusão de três parceiros: um português, um africano, e um latino-americano", explicou.

A convocatória esteve aberta entre 29 de janeiro e 01 de abril de 2024, tendo sido recebidas 370 propostas, das quais 340 foram consideradas aptas para avaliação pelo júri, por cumprirem todos os requisitos solicitados.

Segundo Florbela Paraíba, as propostas avaliadas envolveram 1.123 instituições públicas e privadas de 21 dos 22 países ibero-americanos e dos PALOP, tendo sido selecionados seis projetos.

"Aguardamos com expectativa os frutos desta colaboração internacional, através desta iniciativa, que marca o sucesso da cooperação triangular", concluiu.

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, este projeto pode trabalhar a aproximação da América Latina e África, que têm desafios comuns, "mas parecem desconhecidos".

"Está na altura de se conhecerem, nomeadamente através desta ligação atlântica. Este projeto é uma boa semente para voos mais altos, que podem dar de novo a centralidade ao Atlântico", concluiu o ministro.

A ideia de proximidade entre a América Latina e África foi também tema do discurso do secretário-geral Ibero-Americano da SEGIB, Andrés Allamand, que frisou que estes projetos devem ser executados da melhor maneira possível, nesta comunidade em que a língua é um dos elementos aglutinadores devido à proximidade entre o português e o espanhol.

"É muito importante que Portugal seja uma porta de entrada para a América Latina, e a todos os países de alma portuguesa", uma vez que esta é a língua mais falada no hemisfério-sul, sublinhou.

"Portugal é crucial na comunidade ibero-americana. Este reforço da cooperação é muito importante e África e a América Latina deviam conhecer-se melhor e ter mais presença diplomática mutuamente", declarou.

Para Allamand, esta iniciativa fortalece a comunidade ibero-americana e a sua projeção no mundo, assim como a presença de Portugal na comunidade ibero-americana, permitindo igualmente que a cooperação triangular cresça e fortalece uma visão pioneira, moderna, do que é a cooperação aberta ao mundo das instituições públicas e privadas.

Os seis projetos vencedores são: Bioagrobiodiversidade do cacau para a conservação ambiental e resiliência climática; Tecendo Laços: Iniciativas para Fortalecer a Formação Profissional da Enfermagem Ibero-Americana e Africana; Cooperação Internacional Triangular Argentina-Portugal-Angola para a Inovação e Intercâmbio de Boas Práticas em Educação para o Desenvolvimento; Circuitos Globais de Vendas de Roupa em Segunda Mão; Aliança Triangular para a Transformação Digital do Príncipe e Cidades do Saber.