Madeira 1990
Entro num “Delorean” com o Doc Brown, carrego nos botões e aterro no ano de 1990! O Muro de Berlim já tinha caído. O comunismo tinha sido derrubado, íamos ser todos felizes, ricos e livres como previu Fukuyama… Estávamos a ficar cada vez mais europeus e mais requintados! Cheirava a modernidade e Europa!
Janeiro de 1990. Contava com 11 anos perto dos 12, e curiosamente a assistir o “Back to the Future 2” no Cine Deck. Cinema pequeno, moderno, bonita fachada com letreiro iluminado. O BTTF 2 é um dos meus filmes favoritos, o original argumento, a visão de futuro de R. Zemeckis, os “gadgets”, o humor , a química entre Michael J. Fox e C. Lloyd. Um filme sobre o passado, o presente, o futuro, a família.
Em Fevereiro, o Carnaval, os sonhos com mel, no “Trapalhão” no qual cheguei a desfilar como “Punk” e carpinteiro (em anos anteriores), era bem mais concorrido e engraçado do que agora.
A Páscoa em casa sempre com as decorações artísticas da minha mãe. Aí já não tinha idade para procurar ovos no quintal! Mas ainda jogava ao “Balamento”.
Nos 3 meses de férias de Verão (até Setembro) começava-se o dia no Clube Naval com os amigos a jogar no campo com grades furadas e buracos, depois íamos para o cais pequeno ou cais grande conforme a “moda”. O cheiro a mar. Os mergulhos acrobáticos, novamente futebol (à tarde), depois gelados “Olá”, para acabar com a última “futebolada” já mais lenta e descontraída, o problema era quando a bola ficava presa nos arbustos. Também havia sapatilhas penduradas como decoração. E, os jogadores descalços que usavam sapatilhas abandonadas!...
Torneio autonomia! O Estádio dos Barreiros era a catedral do futebol madeirense. Os 3 grandes da Região - Marítimo, Nacional e União atraíam os seus fiéis adeptos. “Stars and Stripes Forever”, de J. P. Sousa (luso-americano) abria os altifalantes com a voz de Acácio Pestana. Os velhinhos com os seus então modernos rádios pequeninos colados às orelhas (quando não voavam contra o árbitro), a comer tremoços e amendoins. Voltava para casa, ligava o Spectrum para jogar o “International Soccer” ou o “Track Suit Manager”. Cassetes compradas na “Sivis”, a seguir o IBM PS/1 com as disquetes.
Havia o Centro Comercial “Navio Azul”. Com o VideoPlex (o cartão dourado) tinha cassetes Beta (!) e VHS com as suas capas amarelas, queríamos ver o Eddie Murphy, o Stallone ou a girona da Kim Basinger.
Em Outubro, cheirava e sentia-se o Outono - sem horário de Verão como agora!
Começava a nova época escolar, com o esquadro, o compasso e o transferidor!
Por fim, esperava-se, esperava-se, esperava-se pelo Natal e sentíamos o advento (já na altura tinha o meu calendário!) só no início de Dezembro. A casa cheirava a pinheiro, sem árvores de plástico, o Inverno era mais frio e verde.
Penso e decido: já não quero voltar ao “Delorean”! Quero ficar nos 90’s!
Os meus pais semi-velhos (eu achava-os velhos)...
O “mítico” Liceu Jaime Moniz” aqueles corredores, e os corrimões de madeira.
Fazendo “barraca” com os colegas; os incómodos TPC’s e pontos ; as miúdas que nós gostávamos; os “cachorros quentes” do bar; os CD’s de música que emprestávamos; a MTV; a Levi’s; O “Beverly Hills 90210”; os jogos de computador; as minhas rezas pelo futebol; os golos festejados efusivamente daquela glória inocente.
O meu pai sempre me ensinava ditados ingleses e dizia-me “All good things come to an end”. Mas pergunto “Why?” (Porquê?)...
Rodrigo Costa