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Análise

Respostas em vez de guerrilha

O poder conquista-se com dinâmicas construtivas e com diálogo democrático

Tudo se encaminha para que o Orçamento da Região seja aprovado no fim desta semana na Assembleia Legislativa.

Como já foi por diversas vezes explicado é sempre melhor contar com um documento que faz a previsão da receita e das despesas do que governar em duodécimos.

Será este o Orçamento ideal para a Região? Não será com certeza, mas é aquele que apresenta o maior número de contributos dos partidos da oposição, com excepção do PS e do JPP que se excluíram de qualquer negociação com o Governo Regional, manifestando uma incapacidade de diálogo preocupante num quadro democrático.

Nunca na história da autonomia da Madeira houve um documento previsional tão participado. Fazem bem os partidos que forçaram medidas de alcance social que vão melhorar a vida das famílias. É para isso que a política existe. Fizeram mal os partidos que se negaram a ouvir, sequer, o que se pretendia.

Apesar dos avanços e recuos no horizonte desenha-se um cenário futuro de alguma estabilidade, necessário para o desenvolvimento de qualquer região. E é isso que os cidadãos desejam: normalidade e prosperidade. As pessoas estão cansadas de eleições e a acontecerem a breve ou médio prazo vão penalizar quem se atrever em as provocar. Haveria uma mobilização em torno do voto útil no partido com maior possibilidade de alcançar uma maioria absoluta. Não tenhamos dúvidas sobre isso. Isso interessa à oposição? Não. O Chega, que é um partido condicionado à vontade do líder supremo, terá percebido que um acto eleitoral nos próximos meses ser-lhe-ia prejudicial. Os sinais de ruptura interna, provocados por um ziguezaguear estonteante do líder regional, estão à vista de todos, o que não ajudaria numa campanha vitoriosa. Por isso já deu todos os sinais para viabilizar o Orçamento, através da abstenção. Se juntarmos o CDS e o PAN, o governo não precisa nem do PS nem do JPP, cada vez mais identificados como partidos de protesto, que se colocam à margem, com todos os riscos que isso acarreta. A percepção actual é a de que o futuro não lhes será promissor. Com a postura adoptada nos últimos tempos não chegam à cadeira do poder. É preciso mais do que o protesto e a vozearia pública. É necessária uma equipa coesa, realidade distante por exemplo no PS, onde as fracturas internas estão expostas aos olhos da sociedade. Numa altura decisiva os socialistas disputam a agenda com iniciativas da direcção, eleita pelos seus militantes e por um grupo de reflexão constituído por pessoas com responsabilidades na vida do partido. Que imagem estão a passar? De mobilização e união não será com certeza.

Entre um orçamento que preconiza medidas de impacto social e uma guerra de luta pelo poder, por onde seguem os eleitores? Conclua o leitor.

O poder conquista-se com dinâmicas construtivas, com diálogo democrático e com programas assentes em medidas realizáveis. Ainda há tempo, esta semana, para influenciarem o Orçamento. Haja discernimento.

2. Mais velhos, a viver sozinhos e com menos crianças. Este é o retrato demográfico do País. A Madeira não anda longe da fatalidade. O que se tem feito para rebater esta inevitabilidade? Para terem filhos os jovens precisam de garantias sólidas que acautelem a educação e a saúde. Se a maioria vive com os pais, impossibilitados de comprar uma casa e com salários baixos, quais as perspectivas futuras? Em Portugal apenas 27% das famílias têm crianças, sendo o país da Europa com mais filhos únicos. Os números avançados no Dia Mundial da População, celebrado na quinta-feira, deveria fazer soar todos os alarmes. Não fossem os imigrantes e estaríamos numa situação ainda pior. Para inverter esta triste realidade é urgente garantir melhores salários, flexibilidade laboral, carga fiscal mais baixa e medidas habitacionais verdadeiramente eficazes e mais abrangentes.