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Formar novos (e bons) políticos

Portugal precisa de um nova geração de políticos que tenha como principal missão inovar na forma de fazer política

1. Seja no passado, na circunstância presente ou mesmo no futuro, toda a ação política é a aplicação de um conjunto de escolhas (e respostas) para os problemas dos cidadãos e estas devem ser encontradas por aqueles (políticos) que se associam, coligam ou dissociam – e, neste último caso, entram em conflito – no espaço (“arena”) da distribuição do recurso por todos cobiçado, isto é, o “poder”.

Infelizmente, na Madeira e território continental, a opinião vulgarizada é de que os políticos (e o próprio sistema concebido) não têm sabido atender convenientemente às várias exigências/necessidades de prosperidade da região/país e, para muitos de nós, os governos dos últimos 20/30 anos têm alocado mal os parcos recursos públicos (não esquecendo os vários mil M€ de fundos obtidos por Portugal para se aproximar da média de desenvolvimento europeu) e estão condicionados por poderosos grupos de interesse empresariais (ou por grupos corporativos), e não têm servido o interesse nacional (ou, então, não têm a vontade exigida!).

O país precisa de confiar na política e nos (seus) políticos, mas, ao invés, as suas más decisões e atitudes/condutas (agora alvo de ampla investigação criminal, exposição social e condenação pública), têm feito caminho inverso e não há (pelo menos até agora) grandes sinais de melhoria.

São abundantes e claras as demonstrações de desencanto e descrença diante a classe política vigente (e partidos ditos “tradicionais”), cada vez mais profissionalizada, agarrada e fascinada com o poder. A desconfiança dos cidadãos exterioriza-se de forma bem visível e audível (quem ainda não escutou, por exemplo, em pequenas conversas de café expressões como “os políticos só se preocupam com a vida deles”, “são corruptos/vigaristas”, “querem é tacho/poleiro”, “roubam o povo, mas sentem-se impunes/protegidos”, “eles prometem/oferecem muito durante o período da campanha, mas depois não cumprem...”), e a elevada percentagem de abstenção na hora de acorrer às urnas e de escolher quem vai governar e quem representa os cidadãos é um claro testemunho de tudo isto. Lamentavelmente, muitos ainda acreditam que é possível continuar a enganar o povo, mas este é sábio e excecionalmente já se deixa ludibriar. Está esgotado de tanta mentira e demagogia! Como alguém disse, “o nosso povo (já) não é burro” e tudo isto conduziu à perda de credibilidade dos políticos e da política, tornando-se necessário procurar novos protagonistas, novas escolhas e novas respostas, saindo inclusive das categorias clássicas – desconstruindo o “palco atual” – e indo até aos extremos (partidos políticos designados “radicais”), agora viável com uma “nova” pluralidade democrática e selando um novo contrato social, mais patrocinado pelas emoções/paixões do que por uma racionalidade e ética da responsabilidade. É essencial também aqui acrescentar que a classe política portuguesa está envelhecida. Se é verdade que a revolução de abril de 1974 injetou mais juventude nos cargos políticos — metade dos eleitos para a Constituinte não tinha ainda chegado aos 40 anos —, a premência de um reiterado rejuvenescimento desta classe ficou descurada e, por exemplo, a “idade média do Parlamento português” tem vindo a subir, ou seja, a tendência para o envelhecimento médio dos nossos políticos é natural, pois a elite política tem sempre uma inclinação para se querer manter no poder (a título de exemplo, António Costa era até março último o 2º primeiro-ministro mais velho dos 27 que compõem a UE e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já conta com 75 anos). Se os políticos mais velhos têm mais experiência (conhecimento das matérias/assuntos, mas também vícios, interesses instalados…), por outro lado, os mais novos têm outras valências tais como diferentes ideias/propostas, a aptidão para absorverem novas (e mais) informações (flexibilidade cognitiva, altitudinal e ideológica), mais rapidez/pragmatismo; em muitos casos, outra criatividade (inovação nos processos e liderança), novas formas de aproximação aos eleitores e de intervenção/comunicação pública, como a internet (uso das redes sociais)… e uma maior vontade para agir e de mudança.

2. Por volta do séc. Vº a.C., nas cidades gregas e em particular Atenas, nasceu aquilo a que podemos chamar “um ensino para a Democracia”, isto é, os novos educadores sentiram a necessidade de criar e formar uma elite renascente que assumisse a liderança da Pólis (Cidade-Estado). Para tal, os sofistas (educadores políticos) afluem aos centros urbanos para responder às necessidades criadas pelo novo regime democrático e ensinam a areté (virtude) política, ou seja, preparam os espíritos dos jovens para assumirem a carreira de “homens de Estado”, para se tornarem nos futuros líderes/chefes da cidade. Dito por outras palavras, instruíam a «arte da política» e tinham sobretudo uma ambição de ordem pragmática, pelo que como professores de retórica política dominavam a estrutura e as leis da linguagem (gramática, morfologia, sinonímia), as figuras da retórica (tropos, sonoridades, tipos de discurso…) e também os autores clássicos. De forma sintética, estes sofistas treinavam os jovens para a vida política e, tal como hoje, o que importa nesta não é apreender, possuir e expor a Verdade, mas ter, em todas as circunstâncias, sempre razão. Em suma, saber fazer passar, perante um qualquer público, a sua tese com verosímil e conseguir ganhar os debates públicos conquistando assim o poder. O ensino era centralizado em duas áreas/“artes” complementares específicas do debate político: a dialética, a arte de bem argumentar (sustentar e vencer qualquer discurso), e a retórica, arte de bem falar (“de construção de um discurso – logos – eloquente e vencedor).

Passados mais de 2500 anos, muitos dos ensinamentos transmitidos pelos sofistas (o domínio de uma técnica argumentativa/persuasiva) estão ainda presentes nos nossos políticos e na sua práxis, mas a nossa democracia está “doente” e as suas “dores” – e eventual ruína – são já muitas e agudas, sobretudo agora que o debate político está mais centrado no jogo político-partidário e nas paixões/emoções, credibilidade ou falta de honestidade dos nossos líderes, do quem em solucionar, de facto, os problemas dos cidadãos e país.

Portugal precisa de um nova geração de políticos que tenha como principal missão inovar na forma de fazer política e aperfeiçoar a democracia. Precisamos, imperiosa e urgentemente, de novos líderes, de políticos inspiradores, transformadores, humanistas, com sentido de justiça social, carismáticos, visionários…, de uma jovem geração de mulheres e homens que queiram aprender e atendam às reais necessidades dos cidadãos (e do Bem Comum) e saibam encontrar as adequadas respostas para os desafios atuais e do futuro! Necessitamos de vigorosos políticos que para além do domínio da “ciência do bem dizer” (retórica), tenham também elevadas competências éticas, de liderança, que saibam dialogar e negociar com o Outro e com todas forças vivas da sociedade, que tenham conhecimento das estruturas do poder regional e local, mas igualmente das instituições europeias e mundiais; que saibam como criar e implementar boas (e justas) políticas públicas, que disponham de uma particular atenção (e foco) pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU, que honrem o passado e tenham um rumo/prioridades bem definidas para o futuro. Em síntese, que estejam capacitados para serem bons atores no sistema democrático, aptos para saber ouvir, aprender incessantemente e decidir conforme as regras (lei) e com o acerto possível… e que queiram resolver os problemas dos cidadãos e do mundo real.