O terreiro dos avós
Chegam as férias do verão, momentos de pausa, de desconexão, para visitar os familiares e amigos que ficam na Madeira. Para os emigrantes, é o momento de voltar às raízes, abraçar os seus, comer uma refeição em família, dar a volta à ilha e deixar para trás todo o sacrifício que requer estar longe da terra natal requer.
O terreiro dos avós volta a ficar cheio. Para muitos, chegam os netos que estudam no continente, a restante família da Venezuela e de outros lugares distantes. A felicidade volta a imperar, e os abraços de reencontros traçam uma nova rotina, onde qualquer motivo é suficiente para fazer uma espetada, para comer o milho com couves que só a avó sabe preparar com aquele toque autêntico.
O terreiro dos avós enche-se de risos, de afeto, de despiques espontâneos, de histórias antigas que se misturam com as aventuras dos filhos e netos espalhados pelo mundo. Aproveitamos para rever aqueles álbuns antigos que os avós guardam com tanto carinho e para ouvir, uma e outra vez, aquelas lembranças da nossa infância que só eles sabem relatar com tanto detalhe.
A família vai aumentando, e o número de cadeiras no terreiro também. As histórias familiares passam a ter novos personagens, que são acolhidos com o mesmo amor e carinho que os membros mais antigos. Cada novo integrante traz consigo novas experiências e perspectivas, enriquecendo ainda mais a convivência e os laços familiares.
Esse terreiro é um lugar mágico, onde acudimos ano após ano para ver a vida desde outro prisma e renovar o repertório de histórias que nos irão aquecer a alma na distância. Muitas vezes, não damos o devido valor a esses momentos. Para os que estão perto, os almoços de domingo à mesa dos avós e a sobremesa no terreiro passam a ser parte da rotina. Para os emigrantes, as férias passadas nesse espaço tão importante e muitas vezes eternizado em fotografias e vídeos são parte da agenda anual de férias.
Mas o que acontece quando, apesar de o terreiro continuar a existir, os protagonistas já não estão lá? Quando os avós partem, olhamos para as cadeiras vazias onde costumavam se sentar, revemos vídeos e fotografias, procuramos qualquer sinal ou imagem que nos transportem até aqueles verões passados na sua presença. E, principalmente, procuramos excertos das vozes dos nossos avós, porque esse som é o único capaz de preencher a sombra da sua ausência.
Hoje não é o Dia dos Avós, mas o seu legado é digno de honrar todos os dias do ano. Nestas férias, se estão por perto, encham o terreiro dos vossos avós de risos, de histórias, de abraços. Tenho certeza de que essas memórias perdurarão para sempre e serão transmitidas de geração em geração.