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Fact Check Madeira

Casa de Saúde de São João de Deus está sobrelotada, como afirmou o Chega?

Instituição actua na área da psiquiatria, dos cuidados continuados gerais, da alcoologia, da reabilitação psicossocial e da psicogeriatria

Director da instituição pede mais recursos financeiros ao Governo Regional para fazer face aos internamentos por consumo de drogas sintéticas. 
Director da instituição pede mais recursos financeiros ao Governo Regional para fazer face aos internamentos por consumo de drogas sintéticas. , FOTO ASPRESS

O líder do Chega Madeira, Miguel Castro, alertou esta quinta-feira, 11 de Julho, para o aumento do consumo de drogas sintéticas na Região, afirmando que os internamentos nas instituições de saúde associados à toxicodependência têm disparado. Para constatar "a gravidade do impacto das drogas sintéticas na saúde pública e no bem-estar social", o deputado apontou para a "sobrelotação" da Casa de Saúde São João de Deus.

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A Casa de Saúde São João de Deus é um estabelecimento de saúde que presta cuidados a pessoas com perturbação ou descompensação mental. A instituição actua na área da psiquiatria, dos cuidados continuados gerais, da alcoologia, da reabilitação psicossocial e da psicogeriatria, prestando também apoio domiciliário. 

No âmbito da toxicodependência, a instituição trata apenas os transtornos psicóticos induzidos pelo consumo de substâncias psicoactivas. A intervenção e o acompanhamento específico da toxicodependência é da competência exclusiva da unidade de tratamento situada junto ao Hospital dos Marmeleiros. 

O estabelecimento de saúde, localizado na freguesia de Santo António, na cidade do Funchal, tem capacidade para acolher e tratar um total de 325 doentes, distribuídos por 270 camas na área da psiquiatria, 24 camas na unidade de cuidados continuados gerais e 31 camas na unidade de alcoologia. 

Ao DIÁRIO, a Casa de Saúde São João de Deus informa que a ocupação actual ronda os 95% (cerca de 308 utentes), sendo que nem todos os doentes apresentam transtornos associados ao consumo de drogas. 

Ainda assim, é verdade que o número de internamentos relacionados com a toxicodependência tem aumentado, comprova o director da instituição, Eduardo Lemos, revelando que "a tendência tem sido de crescimento desde 2021", com mais de 200 internamentos por ano. 

O enfermeiro atenta que o volume de internamentos por transtornos mentais decorrentes do uso das drogas "é elevado", havendo cerca de 15 pessoas "continuadamente em internamento pelo consumo das novas drogas psicoactivas". 

Segundo Eduardo Lemos, os doentes apresentam uma "descompensação abrupta, severa e grave do comportamento por via do consumo das novas substâncias psicoactivas" com quadros psicóticos "que requerem um cuidado muito grande da parte dos serviços de saúde, nomeadamente com vigilância marcada". Acompanhamento esse que exige um maior financiamento público, afiança. 

"Estamos com dificuldades, do ponto de vista financeiro, para prover os tratamentos necessários", confessa o responsável, que considera existir "uma deficiência muito severa do financiamento deste tipo de serviços [o tratamento mental dos toxicodependentes] por parte do Governo Regional". 

O director da Casa de Saúde São João de Deus espera “uma melhoria substancial do financiamento destes serviços” com a revisão do valor da diária de internamento no Orçamento da Região para 2024, lembrando que as instituições da área da saúde e do social “não conseguem desenvolver a sua missão com excelência, tal como a população madeirense merece, sem recursos”. 

Assim, a afirmação de Miguel Castro, - "a sobrelotação na Casa de Saúde de São João de Deus, devido a casos de toxicodependência, ilustra a gravidade do impacto das drogas sintéticas na saúde pública e no bem-estar social" -, é falsa tendo em conta que a instituição não está com a lotação esgotada e que os utentes acompanhados apresentam quadros de saúde mental distintos, nem todos resultantes da toxicodependência. 

Miguel Castro apontou para a "sobrelotação" da Casa de Saúde São João de Deus para constatar "a gravidade do impacto das drogas sintéticas na saúde pública e no bem-estar social". Segundo apurou o DIÁRIO, a instituição conta actualmente com uma ocupação de 95% (cerca de 308 utentes), sendo que nem todos os doentes apresentam transtornos associados ao consumo de drogas. Ainda assim, é verdade que o número de internamentos relacionados com a toxicodependência tem aumentado.