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Madeira

Estudo nas Selvagens tem fins científicos mas permite capturar e vender milhares de gaiados

Foto SRAPF
Foto SRAPF

O Governo Regional reconheceu, esta tarde, em conferência de imprensa, que autorizou "há dois dias" a realização de um "programa reduzido" para "avaliação científica" dos gaiados na reserva das ilhas Selvagens, mas que também vai permitir a captura de milhares de exemplares desta espécie de tunídeo que poderão ser comercializados para consumo.

"Era mandatório que esta operação acontecesse", disse a secretária regional de Agricultura, Pescas e Ambiente", Rafaela Fernandes, que garantiu ser "coincidência" que a mesma seja anunciada numa altura em que os armadores de atum se queixam da fraca safra e quando o partido Chega veio a público dizer que estava "em vias de garantir junto do Governo Regional a abertura das águas marítimas em torno das Ilhas Selvagens à pesca do atum e do gaiado".

Paulo Oliveira, representante do Instituto das Florestas e da Conservação da Natureza (IFCN), entidade gestora da reserva natural, sublinhou que "a pesca continua proibida" nas Selvagens e que o que foi autorizado foi é "exactamente um estudo", que permite comparar o estado da espécie gaiado dentro e fora daquela área protegida.

Mafalda Freitas, subdirectora regional de Pescas, entidade que vai realizar o estudo, explicou que os estados-membros são obrigados anualmente a reportar às instituições europeias todos os seus dados de pesca, o que é feito no âmbito do plano nacional de recolha de dados. Este procedimento "é de carácter obrigatório", sendo que a Região recolhe dados sobre o peixe-espada preto, a ruama, tunídeos e lapas. Todos os anos são pedidos dados que depois ajudam à definição das quotas de captura. Este ano a única espécie cuja amostragem não está completa é o gaiado. Deste modo, aproveitou-se a circunstância de haver esta espécie nas Selvagens para promover a captura de exemplares. A mesma responsável referiu que todos os exemplares capturados serão medidos e pesados. Há uma quota de 10% (correspondente a um mínimo de 3.000 exemplares) que será levada para laboratório para análises bioquímicas. Mas que os restantes 90% seguem para o circuito de comercialização.

Rafaela Fernandes disse que um dos parâmetros a serem avaliados em laboratório é a presença da biotoxina ciguatera, que já foi detectada na espécie charuteiro nas Selvagens. 

De acordo com a informação prestada nesta conferência de imprensa, o Governo Regional não conta pagar aos armadores que participarem na captura dos exemplares a serem objecto de estudo, pois a sua recolha será feita de forma "colaborativa", com aqueles que se disponibilizarem para a operação. Até ao momento, uma embarcação já se ofereceu para avançar. O IFCN reserva-se no direito de exigir a presença a bordo de um vigilante da natureza, mas tal será feito de forma "aleatória". As capturas terão de ser na modalidade de 'salto e vara', por ser um arte de pesca mais ligeira. As descargas em lota serão sempre acompanhadas por técnicos da Direcção Regional de Pescas.