Inteligência Artificial Geral vai pôr quase toda a gente no desemprego
O autor e especialista em inovação Gerd Leonhard disse à Lusa que o objetivo de criar uma Inteligência Artificial Geral, AGI na sigla inglesa, poria quase toda a gente no desemprego, e vai lançar a campanha "Deny AGI" contra esse propósito.
"Vamos pôr a questão desta maneira. Se se vai procurar construir uma Inteligência Artificial Geral, está-se essencialmente a tentar pôr quase toda a gente no desemprego", afirmou Gerd Leonhard em entrevista à Lusa a propósito da nova campanha. "É uma máquina de desemprego", realçou.
O argumento é que uma máquina com inteligência geral compreende tudo em tempo real: toda a Internet, a comunicação entre qualquer pessoa, todas as línguas, todos os sentidos possíveis. "Isso significa que muito do trabalho deixaria de existir. Não podemos competir porque será essencialmente gratuito", referiu.
O CEO da OpenAI, Sam Altman, disse no início de 2024 que acredita que a AGI (Artificial General Intelligence) será desenvolvida no futuro próximo. Gerd Leonhard considera que esta é uma muito má ideia, motivo pelo qual criou a campanha de consciencialização "Deny AGI".
"A versão extrema disto é uma máquina impossível de controlar", afirmou o especialista, que é também fundador da The Futures Agency. "É como dizer que vamos inventar uma arma nuclear, um Projeto Manhattan, para a IA", comparou. "E vamos esperar que ninguém a use, o que não vai acontecer".
O futurista -- que há cerca de vinte anos estuda cenários de futuro e o impacto da tecnologia -- acredita que isto pode acontecer nos próximos cinco a seis anos e não há uma estratégia concertada para proteger a sociedade por causa do dinheiro envolvido: "é o maior levantamento financeiro alguma vez visto na tecnologia", caracterizou.
Leonhard, autor do livro "Tecnologia versus Humanidade" e do filme documental sobre IA "Look Up Now", disse que é altamente provável que a IA provoque um 'crash' bolsista com consequências económicas devastadoras, devido às novas ferramentas para distorcer factos e manipular comportamentos de compra ou venda de ações, o que provocaria uma crise sem precedentes.
"Nesse caso, seria preciso suspender o mercado bolsista em praticamente todos os países", vaticinou, "e isso poderia causar uma guerra". A probabilidade está a crescer porque não há barreiras nos sistemas, explicou.
Para mitigar os riscos, a solução é a implementação de salvaguardas e um "acordo de não-proliferação" assinado entre os vários blocos de países.
Leonhard elogiou o AI Act, aprovado pela União Europeia, e disse que a sua campanha "Deny AGI" pretende chamar a atenção para os riscos e a necessidade de criar uma "licença" com supervisão e regulamentação. Até agora, o incentivo tem sido lucro e isso, para o especialista, é um grande risco.
"Se o futuro da Humanidade for definido por uma empresa que desenvolve produtos viciantes, vamos acabar como em 'Blade Runner', com a Tyrell Corporation", concluiu.
O futurista ressalvou que a Inteligência Artificial com o propósito de assistir os humanos é benéfica e mostrou-se otimista com as suas aplicações, que podem ir desde marcar consultas e fazer traduções automáticas até controlar a crise climática.
"Nas coisas práticas e de rotina, a IA vai fazer um bom trabalho a tornar a vida mais eficiente e fácil", afirmou o especialista, sublinhando que estas mudanças terão "um grande impacto económico" e vão impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
"O impacto económico é grande porque esta é uma super ferramenta", descreveu. O problema, avisou, é que estas inovações vão aumentar o PIB dos países de forma desigual.
"Se estamos nos 10% de topo, vai aumentar porque é assim que funciona a polarização do capital", indicou. "A parte difícil é perceber como tornar isto uniforme para todos os outros", continuou, considerando que o problema agora registado nos sistemas inteligentes é uma visão demasiado curta.
"Estamos a olhar para as coisas de curto prazo, como as melhorias imediatas, e os efeitos secundários não são interessantes", disse, comparando com a industrialização e o impacto do petróleo, gás e carvão.
"Mas agora os efeitos secundários serão enormes, com mudanças na sociedade, desinformação, preconceitos", alertou. "É isto que me preocupa com empresas como a OpenAI e a Microsoft, que agora estão à frente disto", salientou Gerd Leonhard.