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Cuidar da Comunidade

Decorrem diversas iniciativas sobre a importância dos cuidados primários de saúde onde são abordados os diferentes desafios tendo em consideração aquela que é uma área fundamental que contribui decisivamente para o bem-estar da população. Ao funcionar como primeiro contacto do cidadão com o serviço de saúde, monitoriza e trata a doença crónica e oferece uma ampla gama de intervenções que reforçam a promoção da saúde e a prevenção da doença.

Num momento em que a nível nacional se assiste à transição das Administrações Regionais de Saúde (ARS) para as Unidades Locais de Saúde (ULS), surgem novas estruturas organizacionais como as Unidades de Saúde Familiar (USF). Nunca é demais relembrar até porque a mensagem se mantém atual, que foi em setembro de 1978 no Cazaquistão, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com a UNICEF realizaram a conferência internacional sobre os cuidados primários de saúde que terminou com a publicação da designada Declaração de Alma-Ata, um documento histórico onde se reconheceu a importância fundamental dos cuidados primários de saúde para a comunidade internacional.

Ao contrário do que sucede atualmente, em que se assiste a intermináveis tempos de espera por uma vaga que tarda em aparecer numa lista efetiva ou de recurso, não existe acompanhamento sistematizado do percurso de saúde do cidadão, importa recordar que os cuidados primários de saúde caracterizam-se por uma abordagem abrangente e inclusiva, com condições acessíveis à população de acordo com a área geográfica de residência, com horários de atendimento e funcionamento proficientes, acolhendo as pessoas nas suas necessidades imediatas de saúde numa perspetiva holística, estabelecendo com elas uma relação de confiança ao longo do ciclo vital.

Os cuidados primários de saúde não se resumem a um catálogo de intervenções ou ao descritivo de procedimentos de outros profissionais, têm de dinamizar iniciativas que valorizem a participação ativa da comunidade interagindo em rede com outros serviços comunitários, com os serviços hospitalares de forma a garantir a continuidade de cuidados com qualidade e segurança.

A abertura dos serviços de urgência ou atendimento permanente nos cuidados de saúde primários é um tema polémico, na permuta de argumentos poderá considerar-se como uma valorização assente na seriação prévia à urgência hospitalar assegurando cuidados em casos de menor gravidade que poderá diminuir a sobrecarga dos serviços hospitalares, com redução dos tempos de espera no acesso à urgência, possibilitando que estes serviços direcionem a sua intervenção e recursos disponíveis para os casos efetivamente urgentes e emergentes.

O recente alargamento das urgências periféricas no Serviço Regional de Saúde não teve em consideração a evidente falta de profissionais de saúde, desviando recursos e originando constrangimentos no acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde. A crónica falta de enfermeiros continua a impor o recurso sistemático ao trabalho suplementar para assegurar o funcionamento mínimo de vários serviços colocando em causa as condições de trabalho, sobrecarregando os profissionais e dificultando a conciliação da vida profissional com a familiar.