Telefonema ao pai
- Alô
- Paizinho, daqui fala o seu filho Joãozinho
- Oh meu filho querido, ao tempo que desejava falar contigo!
- Pois, paizinho, mas só agora consegui arranjar um tempinho.
- Eu sei, filho, andas atarefado, e como estás aí em vésperas de eleições para ti é sempre complicado.
- Sim, paizinho, mas isto aqui, nada tem a ver com isso aí.
- Claro, nós aqui ainda estamos numa jovem democracia - aí é oura realidade - só daqui a mais uns cinquenta anos é que atingimos a maioridade.
- Pois, pai, aqui é diferente, porque os pais e os avós desta gente já eram democratas antigamente.
- Entendo perfeitamente. E já agora, aí se um partido ganhar as eleições com uma minoria, filho, dá azo a algum sarilho?
- Não, paizinho. O partido que ganhe com a maioria elege o presidente – seja homem ou mulher – que sabe de antemão que não pode fazer o que entende e o que quer; se tiver a minoria vai ter paciência e pedir a outro partido que lhe dê assistência.
- Pois, filho. Mas não achas que seria mais sensato, o partido ganhador, mas com a minoria, dividir o mandato?
- Não compreendo, o pai que repita para ver se eu entendo.
- Se não me engano um mandato são quatro anos. O partido minoritariamente vencedor, juntava-se aos três partidos a seguir com mais votos, mas perdedores, e dividia pelos quatro, os anos de mandato.
- Talvez o pai tenha razão, mas isso no caso de os políticos terem, pessoalmente, demasiada ambição. Cá não acontece, não.
- Acho, filho, que era mais lógico e até, digamos, salutar, todos os anos haver gente nova a mandar.
- O pai disse mandar? Não ouvi bem, só percebi que a palavra terminava em “ar”.
- Foi mandar. A ligação é que por vezes está a falhar.
- Mas, pai, mudando de assunto, sempre lhe quero dizer que residir aqui é cada vez mais um prazer. Os pais deviam deixar isso aí e virem para aqui viver.
- Já falei nisso à tua mãe, mas ela disse-me que estamos cá muito bem.
Como sabes – com a ajuda da Virgem Santíssima – em novo, abracei a política, fui votado para servir o povo e o Estado e por isso, agora velho, estou principescamente reformado; os teus dois irmãos - com a ajuda de Deus e conhecimentos meus - estão otimamente empregados, onde também servem o povo e o Estado, de modo que, com um só ordenado vivemos bem os quatro.
- Bendito e Louvado seja, fico feliz, não tenho inveja. E a população na generalidade, vive também, assim, com essa felicidade?
- Toda a gente vive bem, quer seja criança, homem ou mulher, só não tem ou não adquire, aquilo que não quer.
As casas, para comprar ou arrendar, não podiam estar mais baratas. A alimentação, o vestuário e o calçado, estão em conformidade com os (nossos) ordenados e, para além desta situação magnifica, temos uma abençoada paz social e, sobretudo, política, que faz inveja aos povos das nações ditas como ricas.
- Ainda bem. Nesse caso acho que tem razão a mãe. E em lugar dos pais virem para aqui, sou eu que devo pensar em ir para aí.
- Filho não faças isso, apesar de agora vivermos como se estivéssemos no paraíso, não quer dizer que amanhã não estejamos à beira de um abismo.
E se te lembras, teu avô já dizia naquele tempo, que nesta terra e neste País ao lado de um político equilibrado e inteligente, havia sempre um “catavento” de modo que o bem-estar do povo mudava tão depressa quanto o vento.
- É verdade, paizinho, já faz tempo, mas bem me lembro. E, valha a verdade, nos dias de hoje mantém-se essa triste realidade.
- Fico feliz, filho, por te lembrares e mostrares que estás informado. Fica, enquanto puderes por esses lados.
- Fico, paizinho e por hoje estamos conversados. Dá um abraço aos meus irmãos, um beijinho e um abraço à mãe e outros dois para ti também.
- Dou filho, fica descansado. Para ti também um abraço apertado.
Juvenal Pereira