Festas de proximidade e pão de unidade
Nestes dias de festas de proximidade, de pão, unidade e alegria, o cristão é convidado a adorar o Corpo de Deus, a celebrar a Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel, a sorrir no seu dia às crianças, mães e pais. Na paróquia onde vivo, cantou-se à Senhora de Todas as Graças e, com os sacerdotes da diocese, retribui-se às ânsias do amor infinito do Coração Jesus a coincidir com nova exortação do Papa Francisco; e às ternuras maternais do Imaculado Coração de Maria. Nada mais próximo que Jesus a dar-nos o pão do céu, o seu corpo vivo, alimento de vida em abundância. Que amor inventivo: alimentar pobres e crianças com o seu corpo, a sua carne na aparência do pão da mesa. O ateu André Frossard, num instante e sem o esperar, sentiu-se uma criança perdoada que acorda com os saberes e a fé em tudo o que é dom divino; admirou-se de o amor divino encontrar esta maravilha, tão simples do pão do pobre, preferido pelas crianças para Se comunicar. Que dom mais belo. Era ateu, comunista, filho de pai comunista, também ateu, não esperava, mas viu num instante uma luz extasiante que o levou a escrever “Deus Existe…” e “Deus em questões” sobre a realidade contemplada a essa luz. Tudo se lhe tornou claro nas verdades da fé cristã, que ignorava, e a sua Fonte que negava até a momentos antes.
O dom do corpo vivo de Jesus, da sua carne de vida eterna, levou os cristãos a recorrerem ao simbolismo eloquente de lendas e mitos pré-cristãos. O mito do Pelicano, a ave que da carne do seu peito daria nova vida aos filhotes mortos, levou S. Tomás de Aquino a cantar Cristo na Eucaristia: “Pie Pellicane”, em hino divinal. Mas trocou o mito e a lenda pela realidade. Jesus é real, vive e falou claro ao afirmar: não há maior amor que dar a vida pelo seu amigo. Falava de si mesmo. A sua oferta de amor e vida na cruz começa na Quinta-Feira Santa. E termina para os que o seguem e dão a vida por Ele, na confissão da fé nessa presença, quase todos os dias, em dezenas de países com a fortaleza dada por este alimento d’Ele. Mas as mães também dão vida aos seus filhos com o alimento dos seus corpos. Qual é a função do útero senão dar vida aos filhos com o seu corpo? O que é o leite materno senão vida do corpo materno dada aos filhos com amor? Não foi esse o dom de amor de Maria e Isabel cantado já por essas mães quando se visitaram ainda antes de seus filhos virem à luz? Mas há mais.
A presença de Cristo no pão da Eucaristia tornou-se realidade iluminante. Jesus fez-se pão e vida do pobre e das crianças em embalagem de amor. Mas para Cristo ser carne e alimento de vida teve que incarnar, ter mãe, geração, gestação, nascimento, ser criança e crescer. A Incarnação do Filho de Deus na natureza humana brilhou como luz de sentido da vida humana. Sem essa luz o mundo ficaria nas trevas. E uma parte dele não estará já nelas em cegueira inconsciente? Na Visitação da Virgem Maria a Isabel toda essa realidade de sentido foi cantada pelas duas mulheres-mães em louvor do Pai, por inspiração do Espírito Santo com amor e bondade transbordante de vida para toda a humanidade a partir delas e dos dois meninos. A festa do Corpo de Deus une-se à Incarnação que foi anunciada e prometida por obra do Espírito Santo, e celebrada em louvores por estas duas mães agradecidas e unidas aos seus meninos, Jesus e João, e às outras crianças de todos os dias mundiais. Sem união e dom de vida e alimento não haveria crianças, não haveria humanidade. E não haveria mães e pais. Já estamos com essa ameaça ou é só um aviso?
Já G. K.Chesterton terá dito que quando Cristo pisou o palco do mundo, a história mudou totalmente, como comenta Dale Ahlquist, o qual lembra que aquele escritor genial profetizou que viria nova idade de trevas do Deus empurrado para o inconsciente e substituído por deuses, barbárie, mitos e demónios. Quando Cristo afirmou que alimentar-se dele era passagem luminosa para a vida eterna, prometeu a libertação do absurdo sem esperança. Sem Ele o homem perde-se em labirintos escuros, sem saída das trevas para a luz porque só a sua palavra divina é a Luz do mundo. Difícil entender que alguns prefiram a cegueira e neguem a luz e o amor.
Na Última Ceia e na Cruz Jesus disse as últimas palavras, de testamento e entrega da sua vida aos apóstolos, à sua Mãe, a todos os seus irmãos. Maria estava lá no cenáculo e junto à cruz como estava nas bodas de Canaá a dizer, com ternuras maternas, as suas últimas palavras (no Evangelho): fazei tudo o que Ele vos disser. Também as crianças gostarão de ouvir em cada dia as palavras dos pais e avós até às últimas mais solenes e de mais sentido para a sua vida. Quem dera que pais e mães e todos, depois de fazer o bem que puderam, digam como Jesus: tudo está completado com amor. E digam baixinho; a minha vida, do sopro do Pai, também a Ele a entrego.
Aires Gameiro