DNOTICIAS.PT
Artigos

Será que o meu filho está preparado para a transição da Educação Pré-Escolar para o 1.ºciclo?

Quase a finalizar um ano letivo são muitas as dúvidas dos pais se os seus filhos estão preparados para a transição escolar. São levantadas muitas questões aos educadores e à equipa pedagógica acerca dos pré-requisitos para o ingresso ao ensino formal e aí emerge a questão “Será que o meu filho está preparado para a transição da Educação Pré-Escolar para o 1.º ciclo?"

Como sabemos a Educação Pré-Escolar privilegia as brincadeiras como alicerces para a aquisição de aprendizagens, possibilitando momentos de descoberta, de socialização, de autonomia, possibilitando à criança explorar os diferentes ambientes naturais em seu redor. No entanto existe um leque de pré-requisitos que deve estar verdadeiramente sedimentado e deve de ser, de facto, estimulado para a aquisição de competências de pré-literacia. Essas competências são fortes preditores para a aprendizagem formal da leitura, da escrita e dos conceitos matemáticos. Quando há gralhas nesses pré-requisitos emergem futuramente dificuldades de aprendizagem específicas: dislexia, disortografia, discalculia e disgrafia. Da mesma forma que uma casa precisa de um conjunto de materiais para a sua construção, assim como para aprender a ler, a escrever e a contar e a calcular são necessárias competências basilares para efetuar estas aprendizagens. Ninguém pode colocar telha numa casa, se previamente não foi feita a estrutura de suporte para a colocar. Isto leva-nos a refletir acerca desses pré-requisitos para ingressar ao ensino formal.

Numa primeira fase a criança deve possuir maturidade para iniciar a escolaridade, pois há crianças que apesar de já terem a idade certa para ingressar ao 1.º ciclo ainda são demasiado imaturas e ainda querem brincar. O brincar é fundamental e imprescindível na infância, no entanto é preciso compreender até que ponto a criança possui maturidade, segurança, autonomia e responsabilidade para esta nova viragem. Sem estas competências não serão exequíveis as aprendizagens mais formais no 1.º ciclo do Ensino Básico, nas áreas de literacias: língua falada, escrita e lida; matemática; expressões, assim como do Estudo do Meio.

Para além disso a motivação para aprender de modo estruturado a arte de ler, de escrever e de calcular é outro pré-requisito para o ingresso ao 1.º ciclo. Se uma criança não gosta de realizar tarefas orientadas e que exigem a execução de atividades de papel e lápis, então convém ponderar adiar a matrícula para o 1.ºciclo.

Possuir sensibilidade para a consciência fonológica é fulcral para a literacia da leitura e da escrita. Tarefas que implicam identificação, associação de rimas, segmentação lexical, identificação e omissão de fonemas, contagem de sílabas, recomposição silábica, identificação de sílabas e fonemas coincidentes são ilustrativos de alguns exercícios de treino que uma criança no último ano de Educação Pré-Escolar deve ser capaz de realizar. Infelizmente ainda há crianças sem esta sensibilidade para os sons da fala, pelo que reforço a ideia que é fulcral repensar no adiamento de matrícula para o ingresso à escolaridade formal.

A investigação aponta também para a realização de tarefas que possibilitem a escrita inventada como estímulo à escrita propriamente dita.

O desenvolvimento psicomotor é também imprescindível para esta transição escolar, de modo que permita à criança realizar a correta preensão muscular para usar o lápis para escrever sejam letras ou algarismos. Quando uma criança demonstra fragilidades no controlo postural, nomeadamente no equilíbrio e no seu tónus muscular, isto refletir-se-á na sua correta posição/ postura de estar sentada, na coordenação óculo-manual e nas competências grafomotoras. Muitas vezes o ritmo lento da criança está associado a dificuldades a este nível, pelo que é importante estimulá-la com uma panóplia de atividades antes da escrita propriamente dita. Aconselho uma criança a efetuar rasgagem de papel, amassar papel, plasticina, barro e outras substâncias moldáveis, assim como recortar usando uma tesoura. Tarefas tão simples como abotoar e desabotoar botões de peças do seu vestuário, atar e desatar atacadores, realizar enfiamentos, pintar dentro de contornos são excelentes para preparar para a escrita.

Não menos importante é preciso ter em conta o tempo que cada criança necessita para fazer estas aquisições, por isso é premente respeitar as etapas de desenvolvimento da criança. Não vale a pena forçar uma criança a ingressar ao ensino formal se o seu nível cronológico não está em consonância com a idade mental.

Por isso se o seu filho não possui estas competências então significa que está capaz de ingressar ao 1.º ciclo, caso contrário ainda vai a tempo de adiar a matrícula para o ensino formal. Dar tempo para que a criança faça estas aquisições é a receita certa para o sucesso escolar nas áreas da literacia da leitura, da escrita e da matemática.