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ONU alerta para degradação da situação em 18 focos de fome

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization - FAO) e o Programa Alimentar Mundial (World Food Programme - WFP) emitiram um alerta para a necessidade urgente de uma acção humanitária em 18 focos de fome (hunger hotspots), onde, acreditam, uma parte da população enfrentará um agravamento dos já elevados níveis de insegurança alimentar aguda, com risco de morte. Mas o que são os ‘focos de fome’ e o que é a Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC)?

Uma população que enfrenta fome é uma população que apresenta desnutrição generalizada e mortes devido à falta de acesso a alimentos. Os focos de fome são locais onde o risco de fome é real, onde as populações estão passando, ou estão em risco de experimentar a fome e morte.

A Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC em inglês) foi criada em 2004 pela FAO para a crise na Somália, é uma ferramenta/modelo para rastrear a fome aguda, que é hoje usada por agências humanitárias em todo o mundo. É usada para melhorar a análise e a tomada de decisões sobre segurança alimentar e nutrição. Os dados são fornecidos pelos parceiros que actuam no terreno.

O IPC define a Fome como uma situação em que "pelo menos um em cada cinco (ou 20%) dos agregados familiares tem uma falta extrema de alimentos e enfrenta a fome, resultando em morte, destituição e níveis extremamente críticos de desnutrição aguda". Nesta fase, lê-se "a prevalência da desnutrição aguda em crianças com menos de cinco anos excede os 30%, os agregados familiares atingiram um ponto de miséria e a morte, medida sob a forma de excesso de mortalidade (a taxa bruta de mortalidade deve atingir pelo menos 2 mortes/10.000 pessoas/dia), é predominante".

O IPC está estruturado em cinco fases de classificação das populações no acesso aos alimentos. A fase 1 significa que não há stress relatado; na fase 2 as pessoas enfrentam algum stress para encontrar alimentos; a fase 3 é já de crise alimentar. Na 4 as populações estão em situação de emergência; e a fase 5 é de catástrofe ou fome.

O relatório da ONU para o período de Junho a Outubro recorda que quando as populações são categorizadas, as situações já estão instaladas e é por isso urgente agir rapidamente para acudir aos 18 focos de fome identificados, num total de 17 países, sobretudo no continente africano.

Os focos de fome são identificados através de uma análise prospectiva, são resultado vários factores que “se sobrepõem, se interligam ou se reforçam mutuamente”, dá conta. Referem-se a conflitos e violência organizada, choques económicos, condições meteorológicas extremas e variabilidade climática. A selecção dos focos de fome baseia-se no consenso entre especialistas em segurança alimentar e analistas de conflitos, económicos e de riscos naturais da FAO e do WFP.

Segundo o documento, são usados indicadores quantitativos e qualitativos. Um dos principais é o já referido IPC e o Cadre Harmonisé (CH) que, sublinha o relatório das Nações Unidas, utilizam uma abordagem analítica semelhante que produz resultados relevantes, consensuais, rigorosos e transparentes sobre a insegurança alimentar aguda actual e prevista. Através destas ferramentas são destacados os países ou locais que vivem ou enfrentam níveis elevados de insegurança alimentar aguda classificada em crise ou pior (fase 3 ou superior). É tida em conta a prevalência de níveis de insegurança alimentar aguda entre a população analisada, bem como a tendência anual. Entra também no processo de identificação dos focos de fome a análise de risco prospetiva a factores como os conflitos e violência política, choques económicos e riscos naturais que possam levar à situação de fome; as actividades agrícolas em curso e previstas; e factores de agravamento, tais como restrições de acesso humanitário, níveis de desnutrição aguda, falta de capacidade de resposta nacional e deslocações.

No relatório há um alerta para a situação em Moçambique. No Sudão do Sul o número de pessoas que morre à fome pode quase duplicar. Juntamente com o Mali, Territórios Palestinos e o Sudão em geral são os territórios onde a situação exige atenção mais urgente.