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Atlas do planeamento: uma exposição a não perder

Está patente ao público na Secretaria Regional de Agricultura e Ambiente, à Rua Dr. Pestana Júnior, n.º 6, a mais importante exposição sobre planeamento urbano de que há memória na Madeira do século XXI. Mais uma vez – já aqui os tinha louvado pela publicação dos mapas-guia da arquitectura moderna e modernista da Região – ficamos a dever ao Ilha Atelier, isto é, aos arquitectos Pedro Gonçalves e Amanda Conduto, o incansável trabalho de investigação e a irrepreensível qualidade gráfica de uma exposição que contou com o imprescindível apoio do geógrafo Ilídio Sousa, Diretor Regional do Ordenamento do Território.

O trabalho envolveu a mobilização de 14 investigadores que, citando o catálogo da exposição, vieram por “em diálogo aproximadamente 80 planos, anteriores ao primeiro plano director de cada município, provenientes de 11 fontes arquivísticas distintas”. Se pensarmos no esforço que está por detrás da coordenação desta vasta equipa – da qual eu próprio tive o privilégio de fazer parte – e, em muitos casos, no trabalho de recolha documental que os dois autores tiveram de levar a cabo para a municiar, teremos uma ideia do colossal investimento que fizeram para levá-la a bom porto.

O resultado fala por si: um rico acervo documental abre-se, literalmente, à curiosidade do visitante que é convidado a puxar as gavetas de quatro volumosas caixas que albergam uma multiplicidade de planos, estudos e traçados urbanos. Os documentos cobrem um intervalo cronológico que se estende do início do século XIX até aos anos 90 do século XX, abrangendo os 11 municípios da Madeira. Pousados sobre as mesas repousam, à disposição dos visitantes, belíssimos álbuns que complementam a informação contida nas caixas e, para quem estiver interessado, há ainda o depoimento dos investigadores registado em vídeo. Em suma, um utilíssimo manancial de informação a que não falta a leitura crítica dos que sobre ele se debruçaram.

Eis, pois, uma extraordinária oportunidade de revisitarmos o nosso passado, de nos interrogarmos sobre aquilo que foi ou não foi feito e sobre as consequências que daí resultaram para os espaços que habitamos. Está nos planos dos autores e promotores da exposição a sua itinerância pelos vários municípios da Região. Eu diria que este extraordinário acervo documental e todo o trabalho interpretativo a que deu origem tem pernas para viajar até ao Continente, ser apresentado não só aos alunos dos cursos de Arquitectura e Geografia como também ao público em geral. Já é tempo de a Madeira se projectar no exterior não só pelas festas que promove ou o discurso poético-pateta sobre a paisagem, mas também pela qualidade da investigação que produz.