Os campos de golfe são focos de poluição ambiental?
A notícia de que o presidente do Governo Regional ia visitar, hoje, as obras de construção do campo de Gofe da Ponta do Pargo ressuscitou a polémica em torno das questões ambientais ligadas àquele tipo de infra-estruturas. No caso em concreto, a participação no debate até não tem sido elevada e o foco, de quem comentou, incidiu na poluição futura resultante das bolas perdidas no ambiente.
Mas, será esta a principal questão ambiental que se levanta, podendo tais infra-estruturas ser consideradas ambientalmente danosas?
Para respondermos às questões suscitadas, procurámos estudos científicos sobre o tema e posições oficiais de entidades ligadas ao sector, não apenas na Região e em Portugal, mas a nível internacional, igualmente.
Desde logo, há algo que resulta claro. O principal problema ambiental que os campos de Golfe colocam é o do consumo de água e não os demais, como o uso de plásticos, ainda que este também exista e seja uma preocupação de muitos intervenientes.
A nossa pesquisa permitiu verificar que a preocupação em torno do consumo de água nos campos de golfe, nos Estados Unidos, remonta a 1921. Um estudo da USGA (United States Golf Association - Golf Courses and Water Use: Current Facts and Figures (2022)) dá conta disso mesmo e revela que são, actualmente, investidos anualmente 10 milhões de dólares na sustentabilidade do recurso.
Tais investimentos permitiram, por exemplo, reduzir o consumo de água nos campos americanos em 29%, entre os anos de 2005 e 2020. Medidas que resultaram, essencialmente, de redução das áreas irrigadas, da introdução de relva menos exigente em termos de água e da introdução de sistemas de rega de maior precisão.
Em Portugal, o golfe existe desde o final do século XIX. Foi introduzido no País em 1890, no Porto, mais precisamente em Espinho. À Madeira chegou em 1937 (A Influência dos Media na Percepção de Produtos Turísticos, Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, Inês Margarida Alberto Antunes, 2014).
Também na Madeira, o grande problema ambiental associado aos campos de golfe tem sido o consumo de água.
Um estudo do Turismo de Portugal, datado de 2021 (Análise da eficiência hídrica nos campos de golfe em Portugal, Alexandra Betâmio de Almeida e Vanessa Velosa) dizia que “os três campos de golfe situados na Região representavam, em 2018, um total de área regada de 80ha. Em 2019 esta área foi reduzida para 70ha (12,5%). Esta redução resultou das alterações verificadas na gestão da rega. A redução de área regada resultou de redução das áreas regadas de fairways e roughs num um campo de golfe (Porto Santo).”
E, mais à frente: “Os campos de golfe da ilha da Madeira são regados com água proveniente de levadas - Levada da Serra do Faial/Lagoa do Santo da Serra e da Levada do Palheiro Ferreiro. Em anos recentes, a qualidade das áreas de jogo dos campos de golfe da ilha da Madeira tem sido afetada pela escassez do recurso, maioritariamente por motivos por razões técnicas.”
O campo do Porto Santo usa águas da ETAR local, que fica a 500 metros, águas das chuvas, guardas em reservatório, e águas subterrâneas, mas também água da dessalinizadora. “A adução de água de rega para o campo de golfe, para além do efluente tratado fornecido pela ETAR da Ponta que satisfaz as necessidades de rega durante os meses de inverno, é reforçada, nos meses de verão, com água de rega proveniente do açude do tanque e também com água dessalinizada proveniente do Reservatório do Lombo do Atalho pertencente ao Sistema Adutor da Central Dessalinizadora.”
Todos os campos da ilha da Madeira, dizia o estudo, revelavam perdas de água por fugas.
Em 2019 houve uma redução no volume de água gasta de 20,46% relativamente a 2018, quando se situou em 761,7 mil metros cúbicos.
Apesar de os campos da ilha da Madeira não preverem a utilização de águas reaproveitadas, já haviam tomado medidas e propunham-se implementar outras, para reduzir os gastos.
No dia 5 de Fevereiro de 2023, o DIÁRIO noticiou que o campo do Palheiro Golf ia investir num novo sistema de rega, com o objectivo de reduzir em 50% o consumo de água.
Também no início de 2023, 7 de Janeiro, foi inaugurado um novo sistema de rega que permitiu poupar quase dois terços do consumo de água do campo de golfe do Santo da Serra. Foi aumentada a capacidade de armazenamento de água; foi reduzida a área de rega e implementado um sistema de telegestão, que permite detectar fugas em tempo real.
O estudo em referência não identifica grandes problemas ligados à salinização dos solos, à poluição por nitratos ou por resíduos sólidos, como os plásticos e outros, no que respeita à Madeira ou ao Porto Santo. Não significa que não existam, mas, a existirem, não são relevantes.
Os campos de golfe têm tentado ser cada vez mais ambientalmente sustentáveis, colaborar na preservação de espécies, entre outras medidas. É uma forma de tentarem compensar os custos ambientais que a construção de um campo de golfe, por regra, acarreta, e, por isso, implicam sempre um estudo de impacto ambiental.
Além disso, trata-se de uma actividade económica que implica, por exemplo, viagens turísticas, o que tem custos ambientais associados (como todas as demais). Mas, se tem custos, também tem benefícios económicos.
Em estudo da consultora Delloite de 2020, citado por Rodrigo Lousada em ‘O Golfe como Produto Turístico em Portugal: Hotelaria e Eventos’, 2022, estima que os cerca de 260 mil jogadores de golfe estrangeiros pernoitaram, em média, sete noites em unidades hoteleiras, com um gasto médio de 164 euros, “estimando-se um impacto anual direto da prática do golfe no alojamento na ordem dos 303 milhões de euros. Acresce que esses mesmos jogadores gastam em média 82€ por dia em restauração.”
Este é apenas um exemplo dos muitos benefícios aportados à economia pelos campos de golfe.
A DREM – Direcção Regional de estatística da Madeira – revelou em Fevereiro deste ano, que, em 2023, a utilização dos campos de golfe da Região gerou 3,8 milhões de receitas directas (nas chamas voltas). A maior parte dos não-sócios, a utilizarem os campos, foi proveniente de países nórdicos, Portugal, Alemanha e Reino Unido.
Pelo exposto, se verifica que é falso que a construção de um campo de golfe seja, de per si, uma asneira ambiental. A conclusão não invalida que, se não houver os cuidados necessários e legalmente impostos, na construção e na gestão, não se possam tornar num problema ambiental.