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Milhares de parisienses voltam a manifestar-se contra a extrema-direita

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De sindicatos a ativistas climáticos, passando por órgãos de comunicação sociais independentes e organizações contra o racismo, milhares de parisienses começaram a encher hoje a Praça da República para manifestarem-se novamente contra o crescimento da extrema-direita.

A manifestação, com o lema "Liberdades! Perante a extrema-direita, criemos esperança", foi convocada por dezenas de sindicatos, associações e órgãos de comunicação social independentes, que, das 18:00 às 23:00 (17:00 às 22:00, hora de Lisboa), estão a organizar concertos, palestras e discursos de artistas, escritores e antigos jogadores de futebol, na Praça da República, no centro de Paris.

"Artistas, jornalistas, investigadores, associações, sindicalistas e desportistas, estamos reunidos para enfrentar a extrema-direita e a intolerância. Estamos juntos: com orgulho da nossa diversidade e do nosso pluralismo", disse a porta-voz da associação Attac France, Youlie Yamamoto, logo no início da manifestação, provocando um longo aplauso.

Entre as bandeiras exibidas pelas pessoas que estão presentes na manifestação, destacam-se as de vários sindicatos franceses, dos mais diversos setores, entre os quais o da Confederação Agrícola. À Lusa, um dos seus membros, Stéphane Gallet, disse que está "muito preocupado com a chegada ao poder da extrema-direita porque têm um projeto nacionalista, racista e xenófobo".

"A União Nacional também tem tido uma posição a favor da intensificação da agricultura, da indústria e dos pesticidas, enquanto nós somos a favor de uma transição agroecológica", disse.

Também Jean, membro do SNEP, sindicato dos professores de educação física, disse que achou primordial vir à manifestação de hoje para "sublinhar o que está em causa nas eleições legislativas", por considerar que há uma "falta de consciência do perigo de que representa a extrema-direita".

"O seu projeto representaria um grande retrocesso para a escola pública. Não se interessam nada pelo reforço dos meios da educação nacional, que é crucial, e só apresentam tiques autoritários: querem o regresso das fardas e que os alunos passem a tratar os professores por 'você'", criticou.

Entre os manifestantes, a maioria mostra cartazes de apoio à Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês), uma coligação de esquerda que junta a França Insubmissa, os ecologistas, os socialistas e os comunistas, e vão entoando o cântico "liberdades, liberdades".

Com uma bandeira do movimento climático Extinction Rebellion, Kambalou disse à Lusa que é preciso "trazer a população para a rua" e defendeu que, a nível climático, a União Nacional "iria enterrar todas as medidas que já são insuficientes".

"É preciso explicar que a extrema-direita não é só um menino bonito a fazer vídeos no TikTok, a extrema-direita é o desaparecimento de todas as liberdades, não é uma brincadeira: mata pessoas, basta ver o que aconteceu na América do Sul. Temos de resistir", disse.

Já Louise, que se afirma como militante de "coletivos efémeros", trouxe uma bandeira da França feita de 'patchwork', que junta tecidos africanos, panos de mesa e bandanas, para mostrar que a bandeira nacional "não é exclusiva da União Nacional".

"A ideia é mostrar que a França é feita de migrações: a França foi colonialista, ainda é imperialista hoje, e não há nenhuma razão para que, depois de termos ido a casa dos outros e a tenhamos pilhado, agora não os deixemos vir para França educar os seus filhos e deixá-los crescer cá", disse.

Desde que o Presidente da República, Emmanuel Macron, decidiu dissolver a Assembleia Nacional francesa e convocar eleições legislativas, têm-se multiplicado as manifestações contra a extrema-direita em todo o país, numa altura em que as sondagens indicam que a União Nacional (Rassemblement National, em francês) irá vencer as eleições, com possibilidade de obter uma maioria absoluta.

No próximo domingo, os franceses são chamados às urnas para votar numas eleições legislativas antecipadas, convocadas após a vitória da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu, em 09 de junho.

O escrutínio tem uma segunda volta a 07 de julho.