ONU pede "apuramento claro" das responsabilidades da violência no Quénia
O porta-voz do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou hoje ao apuramento "claro" das responsabilidades, na sequência da morte de vários manifestantes no Quénia em protestos contra o Governo.
"Quando a polícia ou as forças de segurança usam força letal, queremos que sejam feitas investigações para estabelecer claramente a responsabilidade. E não temos dúvidas de que o sistema judicial queniano conseguirá fazê-lo", afirmou Stéphane Dujarric.
Como resposta aos fortes protestos que assolaram o país, o Presidente do Quénia, William Ruto, anunciou hoje a retirada do projeto de lei orçamental que continha aumentos e a aplicação de novos impostos.
"Depois de ouvir atentamente o povo queniano, que disse alto e em bom som que não quer ter nada a ver com esta Lei das Finanças 2024, inclino a minha cabeça e não promulgarei a Lei das Finanças 2024, que será, portanto, retirada", disse hoje William Ruto num discurso, após um dia de fortes protestos contra a lei, que fez 22 mortos, segundo a Comissão Nacional dos Direitos Humanos do Quénia.
A votação de terça-feira do projeto de lei no parlamento, onde o partido presidencial Kenya Kwanza tem a maioria, provocou a ira dos manifestantes reunidos nas proximidades, em Nairobi, para o terceiro dia de protestos contra o projeto de lei em oito dias.
A multidão invadiu o parlamento, saqueando e incendiando vários edifícios, num ataque sem precedentes na história da independência do país, em 1963.
De acordo com várias organizações não-governamentais, a polícia disparou munições reais contra a multidão.
Nairobi e várias outras cidades foram também palco de pilhagens.
"Uma vez que nos livrámos da Lei das Finanças de 2024, precisamos de ter uma conversa com a nação para avançar. (...) Como é que vamos gerir a situação da nossa dívida em conjunto? (...) Vou propor um compromisso com os jovens da nossa nação, os nossos filhos e filhas", afirmou o chefe de Estado.
Para o Governo, estas medidas fiscais eram necessárias para restaurar a margem de manobra do país, fortemente endividado, com a dívida pública a representar cerca de 70% do Produto Interno Bruto, e para financiar o seu ambicioso orçamento para 2024-25, com uma despesa recorde de 4.000 mil milhões de xelins (29 mil milhões de euros).