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Programa PANTAGRUEL?

PSD e JPP foram os ganhadores nas eleições regionais: o PSD o vencedor e o JPP o partido que mais cresceu

Esta fase política que vivemos será marcada pela capacidade negocial dos partidos intervenientes.

Começou mal. Temo que acabe pior ainda.

Albuquerque precipitou-se e caiu na armadilha de Ireneu Barreto para escolher o seu “amigo” José Manuel Rodrigues para presidente da Assembleia Legislativa.

O argumento que eram precisos 21 (PSD+CDS) deputados para serem mais que 20 (PS+JPP) é tão ridículo que me custa a crer ter sido referenciado por gente sabedora. Tanto 21 como 20 não atingem 24, o número mínimo exigido. Valem zero, como se percebe.

Alguém enganou. Outro foi enganado.

O certo, certo é que o PSD ofereceu tudo ao CDS, com ridículos dois deputados, e ficou sem nada para oferecer ao JPP ou ao CHEGA. Se é que os queria ou quer para parceiros, já que são os únicos que podem proporcionar maioria absoluta ao PSD.

E agora o que dá aos únicos dois que lhe podem dar estabilidade governativa?

Pasme-se, mas foi tudo para o CDS. Isto é: José Manuel Rodrigues tem de ser presidente da Assembleia e Élvio Sousa ou Miguel Castro que se contentem em ser chefe da biblioteca do parlamento.

Isto não é negociar. É uma farsa que ofende aqueles de quem se precisa.

Só parece haver uma saída: baralhar e dar de novo. Recomeçar do zero como se nada tivesse sido cedido ao CDS.

Negociar programas do governo só com o devido respaldo partidário. Se o CDS acrescentou oitenta por cento do seu programa ao do PSD, o que não virá, para o original programa social democrata, das eventuais exigências do JPP e do CHEGA?

Será um verdadeiro PANTAGRUEL programático.

Lamento que os dias que se seguiram às eleições regionais tenham sido um acumular de precipitações, erros políticos e tiros nos pés. Por todos os intervenientes.

Alguém devia ter dito a Ireneu Barreto que depois de tantos meses de impasse a pressa era inimiga da solução.

É a semana mais ridícula da curta autonomia e a prova de que um palácio de São Lourenço melhor estaria se vazio. Ninguém contou a verdade desses dias, naturalmente envergonhados pelo curso dos acontecimentos. E ainda mentem ou omitem.

Há que fazer um primeiro ponto de ordem.

Quem escolhe o líder do PSD são os seus militantes. Nos demais partidos assim deve acontecer, julgo eu.

Albuquerque legitimou-se no interior do PSD, candidatou-se em eleições regionais como indigitado presidente do governo, vencendo, em três meses, quatro eleições como líder: umas no partido e três universais, a saber: para a Assembleia da República, para a Assembleia da Madeira e Parlamento Europeu.

Só miopia interna e falta de ética política podem questionar a liderança de Miguel Albuquerque. Está mais do que sufragado.

Na lei não existe qualquer impedimento político para um arguido. Nada prova ou condiciona. A não ser assim a sua candidatura teria sido impedida por Marcelo Rebelo de Sousa. E não foi como é sabido.

Outra coisa é, no decurso do mandato, algo superveniente vir a concluir acusação judicial. Que pode acontecer a Albuquerque, a outro político activo ou a qualquer cidadão. Se isso acontecesse com o presidente então os apoios políticos poderiam ser revistos. Mas até lá sejamos sérios, como exigimos aos demais, pois há total presunção de inocência.

Tenho medo dos partidos mandados pelos respectivos líderes de Lisboa. O CHEGA precisa de estatutos regionais com poderes políticos para a sua estrutura na Madeira. O seu chefe André Ventura não pode ser o “manda em tudo”.

O JPP é um partido regionalista com sede na Madeira.

PSD e JPP foram os ganhadores nas eleições regionais: o PSD o vencedor e o JPP o partido que mais cresceu, à conta dos votos que traíram o PSD, quer pela discordância com a candidatura do “arguido” Albuquerque quer pela raiva resultante da eleição interna do partido laranja.

Curiosamente foram os únicos dois partidos que não tiveram personagens nacionais a “passearem” na Ilha durante a campanha eleitoral. Os “cubanos” que por aqui fingiram fazer campanha foram derrotados. Alguns desapareceram do mapa político.

Não vejo antagonismo político entre PSD e JPP. O que propõem parece razoável. Provavelmente não caberá tudo no mesmo orçamento, mas as prioridades podem ser integradas de imediato.

José Manuel Rodrigues tem de deixar o cargo de presidente da Assembleia disponível para negociação. O interesse regional é suplantado pelo benefício pessoal. O “sapinho” não pode ter a quinta do “boi”. O CHEGA é mais do dobro do CDS.

Depois, há que interessar o parceiro pela participação no governo regional. Já é tempo de perceber que as maiorias exigem compromisso e disponibilidade. Numa relação leal e sincera.

Na África do Sul, nas eleições deste mês de Junho, o ANC de Nelson Mandela pela primeira vez não teve maioria absoluta. Teve 40%. De imediato, convidou o segundo partido mais votado, o partido dos “brancos” da região da Cidade do Cabo, o DA com 21%, para fazer governo. Foi aceite. Vão juntos adiante.

Isto em África, tanta vez referenciada pelas incompatibilidades entre raças, religiões e credos políticos. Em dois dias tudo resolvido como democracia civilizada.

Aqui, na europeia e ocidental Pérola do Atlântico, vamos levar quase dois anos para concluirmos… que não há solução: ficar tudo na mesma e entregarmos as chaves da Autonomia a Lisboa. Pelos vistos, com esta oposição, não somos capazes de sê-lo.

Nota: é absurdo o reaparecimento da anterior oposição interna do PSD. Neste momento tudo o que é dispensável. Na verdade, se há coisa que Alberto João Jardim não ensinou foi a saber perder.