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Sérvia diz estar preparada para "compromissos" com o Kosovo

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A Sérvia está "preparada para discutir" com o Kosovo, "concluir acordos e estabelecer compromissos", indicou hoje o primeiro-ministro sérvio na véspera de um encontro entre os líderes de Belgrado e Pristina, o primeiro desde há cerca de um ano.

"É mil vezes melhor sentarmo-nos em torno de uma mesa sem resultados que a existência de um único incidente no terreno. É melhor sentarmo-nos, reunirmos, tentar dialogar. Antes isso que uma escalada", acrescentou Milos Vucevic, em entrevista à agência noticiosa francesa AFP, sem precisar o conteúdo dos compromissos sérvios.

O Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro kosovar, Albin Curti, voltam a encontrar-se na quarta-feira em Bruxelas, no âmbito de um processo sob mediação da União Europeia (UE), para uma nova tentativa para desbloquear o impasse negocial sobre o Kosovo.

"As grandes nações, os grandes Estados, não se avaliam pela dimensão do seu território mas pela sua responsabilidade em procurar a paz e o compromisso", disse Vucevic, cujo país nunca reconheceu a independência da sua antiga província do Kosovo.

O primeiro-ministro sérvio atribuiu a Albin Kurti a responsabilidade pela "morte clínica" do diálogo entre os dois países, mas admitiu um desfecho positivo na sequência de um diálogo inclusivo.

O Kosovo, uma província autónoma do sul da Sérvia, autoproclamou a independência em 2008, nunca reconhecida por Belgrado, e a permanência das tensões poderá comprometer as ambições das duas capitais sobre uma futura adesão à UE.

As tensões entre a Sérvia e o Kosovo permanecem muito elevadas 15 anos após o final da guerra, na sequência de uma intervenção militar da NATO contra Belgrado em 1999, suscitando receios sobre o reacender do conflito e a abertura de uma nova frente de desestabilização na Europa enquanto prossegue a guerra na Ucrânia.

A normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo, mediadas pela UE, permanece num impasse, em particular após os confrontos em setembro passado entre uma milícia sérvia e a polícia kosovar que provocou quatro mortos e agravou as tensões na região.

Na sequência deste incidente, a Kfor, a força multinacional da NATO no Kosovo e presente no território desde 1999, reforçou a sua presença no terreno e possui atualmente cerca de 4.800 efetivos.

O Kosovo independente -- que a Sérvia considera o berço da sua nacionalidade e religião -- foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.

A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência kosovar.

Milos Vucevic, designado primeiro-ministro na primavera após diversos anos com a pasta da Defesa, também reconheceu na entrevista à AFP que diverso armamento sérvio poderá estar a ser utilizado pelas tropas de Kiev na linha da frente ucraniana.

Na segunda-feira, o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitri Peskov, indicou que a Rússia iria "analisar as afirmações" que referem a utilização de munições sérvias pelo Exército ucraniano e que "seriam discutidas com os amigos sérvios".

"Não constitui uma contribuição sérvia para um dos beligerantes", assegurou Vucevic, cujo país é historicamente próximo de Moscovo, argumentando que se tratam de armas vendidas a países terceiros e que são redistribuídas de seguida.

"Não quero impedir as empresas de venderem as nossas munições à Espanha, à República Checa, aos Estados Unidos (...). Não é proibido nem é imoral impedir que produzamos armas e munições que, infelizmente, são utilizadas onde existe guerra", precisou.

A Sérvia posiciona-se desde há anos entre o leste o oeste, uma linha particularmente estreita desde a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

Candidato à adesão à UE, Belgrado condenou na ONU a invasão russa da Ucrânia mas recusou aplicar as sanções ocidentais contra Moscovo, que produz mais de 90% do gás utilizado na Sérvia.

Vucevic também se referiu ao projeto da mina de lítio no oeste do país, fortemente contestado no decurso do anterior Governo e que implicou o fim temporário do projeto.

Caso o atual executivo forneça o seu acordo, a multinacional anglo-australiana Rio Tinto, proprietária do terreno desse há cerca de 20 anos, poderia extrair até 58.000 toneladas de lítio por ano em Jadar, perto da fronteira com a Bósnia-Herzegovina.