Em torno de Miguel Albuquerque

Miguel Albuquerque é arguido; não é culpado, tem todos os direitos cívicos intactos, a sua palavra é, pelo menos, tão válida quanto a dos outros. Mas, não, não pode ser presidente, mesmo que o povo tenha afirmado que o queria (por quatro vezes!) e que fazia fé na sua inocência. A avaliar por aquilo que vêm dizendo certos partidos, num atestado de menoridade ao povo.

Miguel Albuquerque tem, pelo menos, os mesmos direitos de outros políticos que foram constituídos arguidos (repito, é um direito que a Lei permite às pessoas para melhor se poderem defender em caso de processo), como aconteceu com Paulo Cafôfo no caso do Monte, pelo qual chegou a ser pronunciado, mas nunca se mostrou disponível para sair.

Miguel Albuquerque, recordo, nessa altura como agora, sempre defendeu que não se substituía à Justiça e que arguido não é culpado: os outros foram variando nas suas opiniões: foram ligeiros a condenar a pressa da Justiça quando Cafôfo ou os ministros do PS estiveram em causa, mas que agora não hesitam em condenar em praça pública).

Miguel Albuquerque tem a coragem de estar disponível para ser ouvido pela Justiça, nunca se escusou a ir ao parlamento; nunca fez como outros; por exemplo Paulo Cafôfo que se escusou a ir ao parlamento, a responder à comissão de inquérito criada para esclarecer o que se tinha passado com as árvores do Monte.

Miguel Albuquerque teve a coragem de ir a eleições, de enfrentar o veredito popular; não fez como outros, não fugiu sempre que as coisas lhe correm mal e só volta a colocar a cabeça à tona quando a tempestade de areia passou, como, por exemplo Paulo Cafôfo o faz amiúde.

Miguel Albuquerque cumpriu, ele sim, com a palavra: sempre disse que estaria disposto ao diálogo com todos os partidos, que iria respeitar a vontade do povo! Dialogou com os partidos, inseriu as propostas deles no seu programa, sempre em procura de um consenso, de uma abrangência que o eleitorado lhe pediu.

Miguel Albuquerque, mesmo apesar de todos os esforços feitos, ao constatar que o programa não iria ser aprovado, foi humilde: retirou o programa, para tentar o diálogo, pondo sempre à frente os interesses do povo.

Não por medo de eleições antecipadas (o povo é sábio, sabe quem o está a prejudicar, a trair), até porque eleições antecipadas até podem resultar no reforço do eleitorado social-democrata, mas por que é coerente e consciente: não se pode continuar a prejudicar o povo, as empresas, a colocar em causa tudo o que muito se fez.

Ângelo Silva