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Uma pequena descida

No início do mês de junho, tivemos a confirmação que o BCE se preparava para descer a taxa diretora em 0,25%. Uma queda reduzida e antecipada pelo mercado, mas que, mesmo assim, consubstancia um passo importante, se bem que algo simbólica, na direção da recuperação económica europeia.

Apesar de ser dos indicadores mais relevantes para os negócios e as famílias madeirenses, não é uma figura que seja muitas vezes discutida publicamente, talvez pela perceção generalizada que este é um tema complexo.

As taxas de juro dos bancos centrais são relevantes para as famílias e empresas pois influenciam qualquer interação que estes tenham com os mercados financeiros. Estas taxas influenciam o custo de aquisição de habitação, a taxa média de poupança das famílias, o ritmo de novos investimentos e o custo de financiamento.

Isto é algo intuitivo de seguir após estabelecermos os mecanismos base. Esta taxa serve de base para qualquer cotação financeira. Logo, é relevante para o custo de financiamento – a descida da taxa de juro torna mais barato o crédito, quer para aquisição de casas, quer para o cartão de crédito – bem como a recompensa das poupanças – a descida da taxa de juro diminui a remuneração de depósitos.

Como tal, uma descida da taxa de juro deverá diminuir o incentivo à poupança e dinamizar o investimento, que terá um custo de financiamento mais baixo. É precisamente por esta razão que dois pontos se verificam:

1. Com o aumento da inflação a partir de 2020, o BCE aumentou as taxas de juro para tentar quebrar o crescimento da inflação.

2. Só com o decréscimo da pressão inflacionária é que o BCE pode voltar a encaminhar a taxa de juro para a sua meta de 2%.

Em novembro do ano passado, a inflação (subjacente e homóloga) registou valores abaixo da taxa de depósitos do BCE pela primeira vez neste ciclo. Foi encarado pelos mercados como um sinal para futuros decréscimos das taxas, que agora se verificou.

No entanto, havia algumas dúvidas sobre se esta descida iria acontecer este mês, uma vez que a reserva federal americana ainda não tinha alterado a sua taxa diretora e Christine Lagarde tinha sinalizado estar preocupada com a pressão causada pelos aumentos salariais na inflação da zona euro.

É verdade que a taxa de inflação tem reduzido, tendo estado por volta dos 2,5% em abril e maio.

No entanto, segundo a ECO, os salários negociados em contratação coletiva, cresceram 4,7% no primeiro trimestre do ano.

O crescimento salarial é um dos principais drivers da inflação e, como tal, o BCE pode ter adotado – e continuar a adotar – uma postura algo cautelosa para não ter de inverter a tendência de decréscimo da taxa de juro, uma vez que esta inversão não seria bem recebida.