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Fact Check Madeira

A quebra no desemprego tem sido igual em todos os concelhos?

Foto Shutterstock
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"Dados publicados, nesta manhã de quinta-feira, 20 de Junho, pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) relativos ao desemprego no mês de Maio, mantêm a Região Autónoma da Madeira como a região com a maior redução do desemprego registado (-19,6%), seguida dos Açores (-15,6%). Trata-se de uma diminuição acentuada de 1.666 desempregados na RAM, comparativamente a Maio de 2023" e a constatação que "é o valor mais baixo desde Outubro de 2004, no final de Maio de 2024, estavam inscritos no IEM 6.832 desempregados o que corresponde a um decréscimo de 3,7% de inscritos face ao mês anterior (-260 inscritos)", escrevia-se, esta semana, numa nota da Secretaria Regional da Inclusão e Juventude.

Mas será que a redução do desemprego registado, que mede mensalmente o número de pedidos de emprego, de propostas de trabalho, de desistências e novas inscrições, mas também de colocações e auto-colocações, foi simétrico em toda a Região? Que concelhos têm menos desemprego do que há um ano, uma década, 20 anos? Vamos a contas.

Madeira é a região do país com maior redução do desemprego registado em Maio

A Madeira foi a  região com a maior redução do desemprego registado durante o mês de Maio. Esses dados, que revelam uma redução de 19,6%, foram hoje revelados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional. Numa nota à imprensa, a Secretaria Regional de Inclusão, Trabalho e Juventude dá conta de que se trata de uma diminuição acentuada de 1.666 desempregados na Região, quando comparado com a de Maio do ano passado.

"Desde 2022 tem-se vindo a se registar uma melhoria significativa na economia, em particular no mercado de emprego, com o ano de 2023 a registar o mais elevado nível de emprego da série estatística do Instituto Nacional de Estatística (INE) iniciada em 2011, enquanto o desemprego atingiu o nível mais baixo, inferior até à média nacional pela primeira vez nesta série", pode ler-se no documento "Emprego e Coesão Social: Breve Balanço", referente ao ano passado. "Apesar dos desafios evidentes, a economia tem registado um crescimento moderado do PIB. Este crescimento deve-se a vários setores, nomeadamente ao turismo e à construção, e em particular ao investimento estrangeiro com forte reflexo na economia, tanto nacional, como regional, viabilizando a empregabilidade de um grande número de pessoas que se encontravam numa situação desfavorável", reconhece.

Face, por exemplo ao valor mais alto do registo histórico do desemprego, ocorrido em Fevereiro de 2013 (24.976 pessoas sem trabalho), assinala-se uma diminuição global na Região de quase 73%, quase 4 vezes menos desempregados. Nessa altura, o concelho do Funchal tinha 10.446 desempregados registados, em Maio último tinha 2.838 pessoas nessa condição, registando, por isso, uma diminuição de quase 73%, a mesma da média regional.

Nos outros concelhos, com 1.162 desempregados agora e 3.761 em Fevereiro de 2013, Santa Cruz viu reduzido o desemprego registado em 69%. Segue-se Câmara de Lobos que passou de 3.833 pessoas sem trabalho para 747, representando uma quebra de quase 81%.

Actualmente com 535 desempregados, Machico já teve 2.404 pessoas sem trabalho, tendo registado uma diminuição de quase 78%, seguido por Ribeira Brava com 375, quando no mês recorde tinha 1.139, representando menos 67%. Calheta vem mesmo atrás com 339 pessoas sem trabalho, e antes tivera 749, pouco mais de metade (-55%).

Num patamar mais abaixo, com 198 pessoas a precisar de trabalhar, Santana já teve 648. Ou seja, teve uma diminuição de 69; São Vicente tinha agora 136 e já teve 667, representando uma quebra de 66%; e Porto Santo com 118 quando já foram 667, tendo assim acumulado uma quebra acima de 82%.

Por fim, Porto Moniz, com apenas 66 desempregados, no pior período chegou a ter 178 pessoas sem trabalho, tendo assim reportado -63%.

Ou seja, há concelhos que estão com quebra acima da média regional e outras abaixo da média regional, sendo que o Funchal, como em muitos outros contextos, estabelece o barómetro. Ou seja, não há um equilíbrio ou quebra igual em todos os 11 concelhos. E se fossemos às freguesias ainda mais assimetrias se encontraria.

Contudo, olhemos só para os dados de há um ano, onde também é possível perceber que as assimetrias continuam (aliás, estão sempre presentes) ao longo do histórico a longo tempo. Face a Maio de 2023, destaca-se Câmara de Lobos com uma diminuição de 33%, Santana -27%, São Vicente -26% e Machico -22%. Todos os outros concelhos estão abaixo da média regional (-20%), com destaque para Ponta do Sol (-2,2%) e Porto Santo (-1,7%), onde praticamente não houve melhorias no último ano.

Os números não enganam e a verdade é que, sem surpresa, a Madeira está hoje num processo em que o "pleno emprego" pode muito bem ser uma realidade. Mas não será fácil. Os grandes fluxos de criação de postos de trabalho no passado mais distante eram a construção civil, mas isso mudou muito com o fim das grandes obras precisamente por altura de 2004, seguida das crises de 2008, 2011, 2013, 2020 e, mesmo agora, desde 2022 (com a guerra na Ucrânia no topo), mudaram muito a face do desemprego registado. Actualmente, o sector que mais hipóteses dá de trabalho é o do Turismo, com a hotelaria e a restauração em particular, obrigadas a recrutar mão-de-obra fora da Região e estrangeira.

Pelo que, tendo por base a definição de pleno emprego, segundo o dicionário Priberam (da Porto Editora), é a  "situação alcançada quando a totalidade da mão-de-obra disponível de um país tem a possibilidade de encontrar emprego".

Já o portal Dicionário Financeiro, diz que "o pleno emprego é conhecido como o mais alto nível no uso de forças produtivas da economia, principalmente no uso de trabalho. Este processo é possível para uma economia em constante expansão. Este cenário é considerado na macroeconomia quando toda a mão-de-obra, qualificada ou não, pode ser empregada devido ao grande impulso que deixa a economia em equilíbrio. Considerando o equilíbrio macroeconómico, a taxa de desemprego pode estar em um nível considerado 'estrutural', em que o pleno emprego se torna diferente de desemprego zero".

Nesse sentido, importa olhar para os dados mais recentes sobre a procura e a oferta e a inserção no mercado de trabalho ou em programas de emprego e formação profissional. Nota-se, sobretudo, os inseridos em programas de emprego que acabam por contribuir para números muito positivos, embora com um crescimento de apenas 0,6% face a Maio de 2023 e quase inalterado em relação a Abril, enquanto que pela negativa o número de inscrições de desempregados ao longo do mês, que aumentaram 15% face ao mesmo mês de há um ano e +8,9% em relação ao mês anterior.

Uma última nota para salientar o facto de, apesar de haver mais hipóteses de trabalho em determinadas zonas do que noutras, o que no caso dos concelhos a norte da Madeira tem contribuído para o acentuar da desertificação e do envelhecimento populacional, no que toca ao desemprego o que impera mesmo ´a dimensão populacional das mesmas, não as oportunidades de trabalho. Tanto é que nas duas freguesias com mais desempregados, São Martinho e Santo António, com 762 e 684 pessoas sem trabalho em Maio de 2024 - que segundo os Censos 2021 eram, de longe, as mais populosas, com 26.929 e 25.940, respectivamente -, em ambos os indicadores tinham um peso conjunto de 21%.

Contudo, a população residente na Madeira aumentou significativamente nos últimos três anos, ao ponto de as recentes estatísticas demográficas apontarem para 256.622 pessoas, o número mais alto desde 2014 (257.617), muito por 'culpa' do saldo migratório positivo, o que confirma que com a economia em alta e mais emprego disponível, a atracção de estrangeiros tem sido factor para, quiçá, o desemprego registado na Região estar ao nível mais baixo em 20 anos.

Quais dos 11 concelhos da Madeira têm menos desemprego do que há um ano, uma década, 20 anos? Os números (não disponíveis na totalidade), ainda assim não enganam. E a verdade é que, sem surpresa, a Madeira está hoje num processo em que o "pleno emprego" pode muito bem ser uma realidade. Mas a economia tem de continuar em alta