O elo mais fraco
O povo soberano não pode esperar. Por isso, no mínimo, exige-se respeito pelo seu voto
Nenhum povo que lutou de forma determinada pelo direito à participação na vida colectiva do seu País e que continua fervoroso cúmplice da retemperadora aragem democrática pode estar cansado de exercer o que lhe cabe, mesmo que seja redutor pedir que assine de cruz propósitos alucinados da partidocracia nem sempre responsável e depois se contente com os miseráveis desempenhos dos eleitos. Assim, mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão escaldados dos oportunistas sem escrúpulos e dos despesistas viciados em benesses. Mas também dos que sem ideologia, dão o dito por não dito, que ora defendem o diálogo desejável e quase simultaneamente o seu contrário, que hostilizam a iniciativa privada geradora de emprego e de oportunidades, que adulteram documentos, fomentam a falsidade, apadrinham o anonimato, violam deveres de confidencialidade, devassam a vida privada e atentam contra o bom nome dos cidadãos que alegadamente representam.
Mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão revoltados com a amnésia dos que sempre usaram a ameaça pública e a chantagem institucional como trunfo eleitoral, como foi evidente aquando do garrote financeiro e da dívida escondida, mas agora se insurgem contra a dramatização política ditada pelo impasse governativo.
Mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão atónitos com a insensibilidade dos que acham ser possível governar em duodécimos ou até sem dinheiro, mas que não prescindem das chorudas subvenções partidárias - mesmo sem nada de útil fazer por merecê-las - ‘jackpot’ que é garantido pelos votos que agora fingem não ter.
Mais do que cansados de eleições, os nascidos nesta terra ou os que nela escolheram viver estão desiludidos com a arrogância dos que lidam mal com a liberdade de expressão, não toleram a crítica e determinam perseguições a cidadãos que apenas ousaram discordar.
Mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão fartos dos delinquentes da baixa política que não horma promessas, dos que desconhecem normas e leis, dos que nem leram estatutos e regimentos e se insinuam como doutos e imaculados.
Mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão incrédulos perante o estado de negação da Autonomia, assumida por parte daqueles que, sem vergonha, nem coluna, se submetem às directrizes das estruturas partidária nacionais, e aceitam a humilhação com naturalidade.
Mais do que cansados de eleições, os madeirenses estão estupefactos com as inabilidades dos que actuam como se nada tivesse mudado no panorama político regional e que comprovam uma angustiante falta de treino, bom senso e criatividade, só porque acham difícil fazer diferente o que sempre fizeram da mesma maneira.
Um povo que se preze irá às urnas quantas vezes for preciso. Apenas para que a sua vontade soberana seja respeitada e posta em prática. Seja ela qual for. E não para que, por exaustão, talvez um dia, o desfecho do sufrágio finalmente contente os que até hoje não foram capazes de exibir argumentos vencedores; se cumpra o que não está escrito em lado nenhum; e sejam satisfeitos os apetites dos errantes que até já têm como referência ideológica aquele que sempre teve a presunção de fazer vingar a tese “depois de mim, o caos”.