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Crónicas

O Euro, os Olímpicos e a cultura woke

Essa é a magia e a parte boa do futebol. Pais e filhos, avós e netos, todos juntos pelo mesmo propósito. Naqueles 90 e tal minutos tudo se parece esquecer

A festa do Campeonato Europeu de futebol está de novo aí! Com mais equipas e a emoção de sempre. Até agora poucas surpresas. Uma Inglaterra mais sensaborona do que seria previsível, a Espanha e a Alemanha a mostrarem todo o seu poderio e uma Roménia a surgir como a novidade com uns claros 3-0 à Ucrânia. Ainda está quase tudo por decidir e não é expectável que alguma das principais seleções fique de fora dos oitavos de final, sendo que até os melhores terceiros classificados em grupos de quatro equipas, passarão. Estamos por isso numa fase de arranque, do sentir de pulso e aquecimento dos “motores” para as decisões que se aproximam. Portugal sofreu no primeiro encontro para levar de vencida uma ultra defensiva Chéquia, o que faz antever as dificuldades que podemos enfrentar por sermos considerados um dos favoritos à vitória final. No primeiro jogo, não nos livrámos do susto inicial mas com garra e determinação demos a volta ao resultado e no segundo carimbámos com classe o apuramento em primeiro lugar mesmo faltando um jogo. No sofá vai-se discutindo se deve jogar o Chico ou o Silva, o Palhinha ou uma defesa a três. Assim se vão mantendo acesas as conversas de café e os encontros de amigos.

Nas bancadas e nas ruas alemãs tem sido muito bonita a coreografia. É de facto espetacular a demonstração de amor e paixão que os países despertam e que sobretudo neste desporto saltam à vista. O orgulho, o sentimento de pertença e a união entre pessoas que não se conhecem, em prol de um objectivo comum. Os milhares espalhados em cada estádio com as cores das suas seleções, os cânticos entusiasmantes (neste particular ninguém bate os Países Baixos), a emoção filmada a cada lance. A forma como se juntam família e amigos, nas casas de uns e de outros, nos cafés e nos restaurantes ou em zonas para fãs espalhadas pelas cidades. Os abraços que não se esquecem, às vezes a desconhecidos que se encontram próximos. Alguém é incapaz de se lembrar por exemplo onde estava na final ganha por Portugal no Euro 2016? Ou com quem estava? São momentos que nos marcam e que ficam para sempre. Essa é a magia e a parte boa do futebol. Pais e filhos, avós e netos, todos juntos pelo mesmo propósito. Naqueles 90 e tal minutos tudo se parece esquecer e nada mais parece ter importância.

O outro lado da moeda é o domínio do absurdo. A violência aqui ou ali, as ofensas, a frustração e agora também a cultura woke no seu esplendor. Para quem sabe de futebol, lembra-se seguramente da celebre “Laranja Mecânica”, num tempo em que a Holanda era uma máquina destruidora com uma equipa avassaladora, seleção vencedora do Europeu de 1988 onde pontificavam nomes como Marco Van Basten, Ronald Koeman, Frank Rijkaard ou o carismático Ruud Gullit. Ora este último tinha uma imagem inconfundível com aos suas fartas tranças e um bigodinho. Alguns adeptos da sua seleção, em jeito de homenagem a esses gloriosos tempos, decidiram aparecer nas bancadas, pintados com a cara preta e cabeleiras a imitar o jogador e logo os mais sensíveis que se ofendem por tudo e por nada vieram a terreiro criticar aquilo a que chamaram de apropriação cultural e racismo. Foi preciso um jogador com uma imagem semelhante (Nathan Ake) vir dizer que não via problema algum na brincadeira para acalmar esta vaga dos que vêem maldade em tudo e que defendem que hoje em dia nada se pode fazer ou dizer.

Nos Jogos Olímpicos, outra grande competição que se irá realizar em Paris este Verão, não estará a competir Lia Thomas, o americano transexual que queria participar na prova das mulheres onde se tem destacado. Após muitas críticas das mulheres que sentem estar a disputar com armas desiguais, pela capacidade física habitualmente superior dos homens, o Comité Olímpico decidiu finalmente (e bem, no meu entender) proibir Lia de participar no certame. Concordo que se possam arranjar competições para quem queira mudar de sexo ou quem se sinta diferente agora homens que decidem mudar de sexo ocuparem o lugar de mulheres é que não. Há limites para o razoável.

P.S. Força Portugal e para os atletas portugueses no Euro e nos Jogos Olímpicos!