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Verdades inconvenientes

Tem sido curioso o discurso do PSD-Madeira desde 26 de maio. Primeiro, era o grande vencedor. Mas a verdade é que, apesar de ter sido o partido mais votado nas eleições regionais, não conseguiu votos suficientes para atingir os 24 deputados necessários para a maioria absoluta, nem mesmo com o CDS/PP. A verdade é que a realidade atual exige mais trabalho na hora das votações, ao qual o PSD não está habituado. Os vencedores, afinal, foram vencidos.

Mas, esta situação não tem nada de catastrófica como nos querem fazer crer. Em toda a Europa, existem países a serem governados por governos minoritários, ou em coligação. Então, qual é o problema?

O problema é o que nos conduziu às eleições antecipadas – as investigações a Miguel Albuquerque e o facto de ter sido constituído arguido num processo de alegada corrupção. Há, no entanto, que recordar que o PSD-Madeira foi a eleições internas recentemente e a maioria dos seus militantes decidiram manter Miguel Albuquerque como seu líder. Com esta votação legitimaram-no para conduzir os destinos do partido. E também foi cabeça de lista nas últimas eleições. Estas são verdades inconvenientes.

Dito isto, é importante analisarmos os resultados eleitorais dos partidos que sustentam este governo – PSD-Madeira e CDS/PP.

Desde que Miguel Albuquerque é Presidente, o PSD tem vindo a perder votos sucessivamente e o CDS/PP acompanha este sentido descente de votos. Estas são verdades incontornáveis que exigem respostas sérias dos seus líderes. Questão para perguntar: para onde estão a ir os votos?

Numa análise exaustiva aos últimos resultados eleitorais, verificamos que apenas 36,13% dos eleitores votaram no PSD-Madeira e que isto corresponde apenas a 19,29% das pessoas inscritas no caderno eleitoral. A matemática não engana. O PSD-Madeira não representa a maioria da população.

Por outro lado, todos os partidos da oposição sabem que receberam votos como alternativa e não podem simplesmente dar um voto de confiança a um partido cuja idoneidade do líder está a ser questionada.

Os partidos da oposição que estão representados na Assembleia estão mandatados com o voto dos eleitores para fazerem o seu trabalho. Não tendo recebido a maioria dos votos, estão mandatados para fazer oposição. E a oposição faz-se a quem governa.

Após a constituição do governo, a primeira prova do governo está na aprovação do Programa de Governo e de Orçamento e da aprovação de Moção de Confiança a este governo. Seria incoerente a oposição votar favoravelmente a qualquer um destes documentos. Seria trair os seus eleitores. A verdade é que a oposição tem a maioria de deputados e não há confiança nos documentos apresentados, nem no Governo.

O PSD-Madeira, sabendo que levaria um chumbo, decidiu retirar o Programa de Governo e de Orçamento para votação para evitar a votação da Moção de Confiança. Procura ganhar tempo. E agora?

Sem dramas, o orçamento continua em execução sob forma de duodécimos. Isto significa que em vez de poderem gastar o dinheiro como querem, têm de andar com calculadora na mão e não podem gastar mensalmente a mais do que está previsto para o mês. Não é assim que cada um de nós faz todos os meses? Portanto, a quem interessa bloquear situações para fazer convencer que estamos num entrave?

O que está em causa é a solução que o PSD-Madeira propôs para se manter no poder. Mas, existem outras soluções.

O que me está a parecer é que face à dificuldade em obter apoios de outros partidos para obter a maioria dos votos na Assembleia, o PSD-Madeira está numa estratégia de ganhar tempo, de atribuir a culpa aos partidos da oposição, porque, na verdade, já pensa em eleições antecipadas.

Vamos aguardar com serenidade. O tempo tem o condão de pôr tudo e todos no seu devido lugar.