Engenheiros ainda desconfiam da Inteligência Artificial
“A inteligência artificial [AI] vai inevitavelmente tomar o nosso lugar”. Quem o diz é o professor catedrático João Gomes Ferreira, que interveio, esta tarde, nas Jornadas de Engenharia Civil, que decorrem este sábado, em Câmara de Lobos, no Museu de Imprensa da Madeira.
No evento promovido pela Ordem dos Engenheiros Região Madeira, o especialista mostrou-se convicto de que “a IA será sempre a melhor resposta em projectos de grande escala e com grande volume de dados” e “vai fazer as coisas melhor que nós”, garantiu.
João Gomes Ferreira constata que actualmente “há ainda mais desconfiança do que medo da parte dos engenheiros” nas novas tecnologias e alerta para a necessidade de um “tempo de transição e de adaptação para trabalhar com a máquina”.
O docente do Instituto Superior Técnico, que falava no âmbito do painel ‘Inovação/Novas tecnologias/Sustentabilidade’, mostrou aos colegas como “agarrar o futuro” com recurso à digitalização e à inteligência artificial na engenharia civil.
João Gomes Ferreira analisou ainda o impacto das novas tecnologias na profissão, revelando que os futuros cursos de engenharia terão de ser repensados, no sentido de uma maior especialização na era digital. “O avanço tecnológico requer mais tempo de formação e maior especialização”, defendeu.
O docente do Técnico avançou algumas das motivações para o recurso a estas ferramentas, desde “o acréscimo da eficiência e melhoria da qualidade” até à “diminuição dos erros, redução dos prazos e erros”, passando pelo “aumento da segurança e da sustentabilidade”.
O BIM – Building Information Modeling –já que permite a modelação 3D integrada, a coordenação multidisciplinar, a documentação automatizada, a análise e simulação, bem como a deteção de conflitos, foi uma das ferramentas apontadas como exemplo.
O docente realçou ainda a “precisão, eficiência e flexibilidade” de outras ferramentas de digitalização compatíveis com “ganhos na rapidez no trabalho de campo e processamento”, sendo a realidade virtual/aumentada uma “aposta incontornável no quotidiano dos engenheiros civis”, já que permite “desenvolver projectos de forma imersiva, antecipando a construção e evitando incompatibilidades”.
A automação, a robótica, a impressão a 3D são recursos que passam a ser operacionalizados com maior eficácia pela IA, no universo da engenharia civil, com aplicação nas várias fases de um projeto, desde traçado de vias de comunicação, conceção de estruturas, sistemas de gestão inteligentes e sistemas de inspeção e monitorização.
João Gomes Ferreira é autor e membro do centro de investigação CERIS.
Sector da construção civil vai crescer à escala global
O volume de construção nos próximos anos será equivalente à construção de uma cidade como Paris todas as semanas. O exemplo foi avançado, esta tarde, nas Jornadas de Engenharia Civil, pela directora de projectos da empresa Teixeira Duarte, para ilustrar o crescimento que se prevê no sector, apesar dos desafios, mudanças e condicionantes, à escala global.
Após uma resenha histórica da empresa portuguesa – que ao longo de um século foi pioneira em abordagens e materiais inovadores, contando com obras de relevância no país e no estrangeiro – Laura Esteves destacou os desafios que sector poderá enfrentar, como sejam: “a escassez de mão-de-obra, as exigências regulamentares e as alterações climáticas”.
A empresária apontou ainda o “decréscimo da produtividade no sector da construção”, com impactos na sustentabilidade de negócio, resultado de factores como “os atrasos, acidentes de trabalho e aumento de custos”.
A responsável deu a conhecer algumas plataformas e aplicações digitais desenvolvidas pela sua empresa de forma a promover o trabalho colaborativo, bem como alguns projectos onde são aplicadas as novas tecnologias nas áreas do planeamento, monitorização e execução.
Laura Esteves acredita que “as novas tecnologias têm grande potencial de aceitação por parte dos agentes envolvidos na construção, dadas as mais-valias na poupança de tempo, optimização de recursos e diminuição da margem de erro”.
A Teixeira Duarte é empresa certificada na área da sustentabilidade há alguns anos. Uma herança que a leva a ser uma das poucas empresas de construção a participar num consórcio, no âmbito da UE, que engloba dez projetos de doutoramento, envolvendo 20 instituições universitárias. Os princípios do projecto ‘GreeNexUs’ – áreas mais verdes, mais saudáveis e mais seguras – serão aplicados em todas as actividades da empresa, desde a construção à imobiliária.