Alemanha pede à China que pare de fornecer bens que Rússia possa usar na guerra
O vice-chanceler alemão e ministro da Economia apelou hoje à China para que deixe de fornecer bens civis e militares de dupla utilização à Rússia, iniciativa que contribuiria para melhorar as relações comerciais com a União Europeia.
"A China afirmou que não fornecerá bens militares. Talvez esta clareza possa ser alargada também aos bens de dupla utilização, para que não forneça bens que, muito provavelmente, acabarão no setor militar. Isto ajudaria as relações comerciais entre os nossos países", afirmou Robert Habeck numa conferência de imprensa, durante uma visita oficial a Pequim.
O político dos Verdes salientou que, durante as suas reuniões com membros do Governo chinês, no sábado, ficou claro que Pequim ainda não compreendeu totalmente a visão alemã sobre a guerra na Ucrânia.
"Para nós, não se trata de uma guerra local, mas sim de uma ameaça à nossa própria segurança", afirmou.
"É por isso que a Europa não pode permitir que sejam exportadas para a China tecnologias que acabem por ir parar, direta ou indiretamente, à Rússia", defendeu Habeck, para quem isso "já está a prejudicar" as relações comerciais e políticas com Pequim.
Nas suas reuniões com o comissário chinês para o Comércio, Wang Wentao, e com Zheng Shanjie, presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o governante alemão também discutiu questões como os direitos humanos, a luta contra as alterações climáticas e as tarifas sobre os veículos elétricos chineses.
"Transmiti que, para a economia europeia, os direitos humanos no futuro não serão algo a cumprir por razões morais, mas serão parte integrante das cadeias de produção", sublinhou Habeck, para quem os seus interlocutores estão conscientes de que "algo mudou" a este respeito.
O vice-chanceler elogiou o "grande salto" dado pela China nos últimos anos na promoção das energias renováveis e a compreensão em Pequim relativamente à "urgência" com que a luta contra as alterações climáticas deve ser abordada.
No entanto, salientou que, do ponto de vista alemão, existem formas mais "eficientes" de aumentar as capacidades de produção de eletricidade do que a construção de novas centrais a carvão empreendida pelo gigante asiático.
Habeck também abordou a disputa sobre as tarifas dos veículos elétricos, argumentando que, para "resolver problemas", é necessário primeiro "compreender o contexto dos pontos de vista da outra parte".
Os subsídios estatais são legítimos, afirmou o governante alemão, mas é necessário determinar se as sobrecapacidades de exportação das empresas chinesas resultam de "vantagens" concedidas pelo Estado.
"É importante traduzir os preconceitos numa análise concreta do que está a ser negociado", afirmou, manifestando a esperança de que Pequim aceite a proposta europeia de diálogo sobre os direitos aduaneiros.
O encontro com o primeiro-ministro, Li Qiang, que tinha sido solicitado pela parte alemã para sábado, não se realizará, oficialmente por razões de agenda.
Habeck, que é acompanhado por uma delegação de empresários alemães, chegou a Pequim na sexta-feira, vindo da capital sul-coreana de Seul e visitará as metrópoles de Xangai e Hangzhou (centro) antes de regressar a Berlim no domingo.