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Biden prepara campanha violenta contra Trump

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MIGUEL MEDINA / AFP

O Presidente dos EUA e candidato democrata, Joe Biden, lançou esta semana um violento anúncio televisivo contra o seu adversário republicano, Donald Trump, antecipando uma dura campanha eleitoral.

"Vemos Donald Trump tal como ele é. Ele foi condenado por 34 crimes. Foi acusado de abuso sexual. Cometeu fraude fiscal", diz o vídeo de campanha eleitoral do Partido Democrata nos seus primeiros segundos, retratando a imagem do candidato republicano a preto e branco e com um ar de suspeito e de criminoso.

Para vários analistas, este vídeo -- o primeiro da candidatura de Joe Biden e de Kamala Harris, em pré-campanha para as eleições presidenciais de 05 de novembro -- denuncia o que poderá vir a ser um ambiente político norte-americano particularmente violento nos próximos meses.

"Há quatro anos, ninguém imaginaria Biden a patrocinar um vídeo com este grau de violência nas suas denúncias. O candidato democrata parece estar a reinventar-se para esta campanha eleitoral, preparando-se para um cenário de 'guerra política aberta'", explicou à agência Lusa Diana Waltz, investigadora de Ciência Política no Hunter College, em Nova Iorque.

Esta analista recorda que este vídeo faz parte de um enorme investimento que os democratas estão a preparar para lançar nos estados que podem vir a ser decisivos no resultado final das eleições, em particular Pensilvânia, Arizona e Wisconsin, onde Biden parece estar a ter dificuldades em ultrapassar o seu adversário republicano.

De resto, num recente encontro de líderes democratas, várias figuras de relevo mostraram-se favoráveis a expor o lado negro da candidatura de Trump, apostando em vídeos de campanha que retratassem os processos judiciais em que ele está envolvido e não o poupando nas críticas sobre as suas atitudes consideradas racistas e homofóbicas por vários setores mais à esquerda na sociedade dos Estados Unidos.

Quando Trump foi condenado por 34 crimes num recente julgamento em Nova Iorque, demorou apenas 19 minutos após o veredicto do júri para que o governador do Illinois, o democrata J.B. Pritzker, fosse para as redes sociais acusar o candidato republicano de ser um "criminoso sem escrúpulos".

Esta postura não é consensual dentro do Partido Democrata e são também muitos os dirigentes que preferem que Biden mantenha um tom de recato, evitando 'campanhas negras' contra o adversário republicano, sobretudo para não o imitar numa estratégia de guerrilha política, tantas vezes criticada pelo atual inquilino da Casa Branca.

"Mas o vídeo desta semana não deixa dúvidas sobre qual a estratégia que está a prevalecer. Biden vai mesmo jogar duro nesta campanha", defendeu à Lusa Michel Goff, professor de Comunicação Política na Universidade de Paris.

Para este investigador - que está a preparar um livro sobre as eleições presidenciais norte-americanas de 2020 -, os conselheiros de Biden não estão certos sobre o efeito que terá nos eleitores os processos judiciais de Trump ou mesmo a sua condenação.

"Alguns setores democratas temem que se Biden se envolver nestes ataques, cresça a ideia -- alimentada por Trump -- de que todos estes processos estejam a ser manietados a partir da Casa Branca", explicou Goff.

Até hoje, e depois de vários comícios de pré-campanha, Biden apenas por uma vez acusou Trump publicamente de ser um criminoso; e mesmo assim, foi num discreto evento de angariação de fundos, no Connecticut, e com as câmaras televisivas desligadas.

Do lado de Trump, ainda não houve uma reação ao vídeo de campanha dos democratas, o que é pouco usual no candidato republicano, que rapidamente responde a ataques vindos do outro lado e os aproveita para realinhar a sua própria estratégia de ataque político.