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Sobreviventes do 'hajj' contam cenário de horror com calor de 50 graus em Meca

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Os sobreviventes da peregrinação mais importante da religião muçulmana contaram hoje os momentos de terror que viveram, com pessoas a caírem de exaustão e outras perdidas depois de horas debaixo de um sol de 50 graus.

"Havia cadáveres no chão; vi pessoas desmaiarem de repente e morrerem de exaustão", disse Mohammed, de 31 anos, à reportagem da agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP), que falou com alguns dos sobreviventes do mais mortífero Hajj, a peregrinação sagrada a Meca que todos os muçulmanos devem fazer pelo menos uma vez na vida.

Este egípcio que fez a peregrinação com a mãe de 56 anos contou as dificuldades de rezar durante horas sob um sol que em Meca ultrapassou os 50 graus esta semana, sem acesso às instalações disponibilizadas pelas autoridades da Arábia Saudita apenas para os peregrinos registados.

A peregrinação deste ano, que terá levado a Meca cerca 1,8 milhões de fiéis, foi a mais mortífera de sempre, com o número de mortos a ultrapassar os mil, mais do dobro do número registado no ano passado, levando as autoridades do país a argumentar que o país "não falhou".

"O Estado não falhou, mas houve um erro de julgamento por parte de pessoas que não mediram os riscos envolvidos", disse um responsável do governo saudita à AFP, na primeira reação oficial ao elevado número de mortos.

Uma contagem hoje elaborada pela AFP, com base em declarações oficiais e informações fornecidas por diplomatas, estimava o número de mortos em 1.119, mais de metade dos quais peregrinos egípcios.

Para além das famílias separadas na multidão e das lesões por atropelos durante as celebrações, os peregrinos enfrentaram também as elevadíssimas temperaturas e a falta de condições para quem não estava oficialmente registado, o que nem sempre é possível não só pela falta de vagas, mas também pelo valor elevado cobrado para que o viajante possa aceder não só às instalações com ar condicionado, mas também a restaurantes e lojas com ar condicionado, por exemplo.

Mesmo alguns peregrinos registados tiveram dificuldade em aceder aos serviços de emergência, o que mostra que o sistema estava sobrecarregado, diz Moustafa, um dos muitos peregrinos egípcios, à AFP, cujos dois pais idosos, com autorização para o Hajj, morreram depois de terem sido separados dos familiares que os acompanhavam.

"Sabíamos que estavam cansados", admitiu, acrescentando: "Caminharam muito, não encontravam água e estava muito calor, sei que nunca mais os vamos ver".

A única consolação, acrescentou, é saber que os seus pais foram enterrados em Meca, a cidade mais sagrada do Islão. "Todo o Egito está triste", conclui, referindo-se ao elevado número de mortos de peregrinos egípcios, mais de 600, de acordo com a contabilização feita pela AFP com base em fontes oficiais de vários países.

O 'hajj' é um dos cinco pilares do Islão e este ano atraiu 1,8 milhões de peregrinos, estimando-se que 400 mil destes não tenham garantido a credencial oficial da peregrinação.