Para que fique claro!

Miguel Albuquerque quis, em fevereiro, evitar eleições, um processo eleitoral que se afigurava eleitoral e um pós-eleições que já se previa confuso, demagogo e avesso ao consenso. Leitura da Oposição: tem é medo de eleições, eleições já.

Percebia-se; estava-se nos primeiros dias após a investigação judicial massiva enviada por Lisboa, e as perspetivas de, pela primeira vez, conseguir-se derrotar Miguel Albuquerque, nas eleições, era apelativa.

Miguel Albuquerque, face às moções de censura que estavam em preparação pelo PS e pelo Chega (e outros partidos a ver, em cima do muro, como as coisas se desenrolariam) e com o PAN (e também o CDS) a retirar a confiança no Governo – ou seja, perante a constatação clara de que as moções de censura seriam aprovadas e que o Governo cairia imediatamente, sem se poder sequer votar qualquer Orçamento ou Plano – fez o que qualquer político faria na sua posição: retirou o programa e o Orçamento, precisamente para os resguardar até à decisão de Marcelo Rebelo de Sousa.

Resultado: Oposição, que tanto queria ver o Governo na rua, fez mais um “número de contorcionismo” e logo veio dizer que se estava a prejudicar as pessoas, ao não aprovar aqueles documentos. Ou seja, impedia o Governo de os ter, depois queria que o Governo os apresentasse. Como?!

Miguel Albuquerque, até na sequência dos vários casos e casos na Justiça que têm dado em nada, resolveu a eleições. Fê-lo na consciência de que estava inocente e de que, como tal, nada devia nem nada temia. Oposição saltou-lhe: logo em cima, que ele não tinha sido ainda culpado, mas que estava como arguido e que, como tal, não tinha direito a ir a eleições. Só faltou dizer que ele deveria estar preso, sem sequer ser ouvido, muito à moda dos tempos da “Velha senhora”. Que ele deveria ser logo desterrado para a ilha do Sal, com comida racionada.

Miguel Albuquerque era líder do PSD nas eleições nacionais, quando, pouco mais de um mês sobre o início da averiguação judicial, o seu partido as venceu. E Paulo Cafôfo as perdeu.

Miguel Albuquerque, entretanto, candidatou-se às eleições internas no PSD: ganhou-as! Reação da Oposição: os militantes do PSD nada sabiam e quem iria sofrer seria o partido nas eleições. Como se viu, depois.

Miguel Albuquerque fez campanha. Sem ofender, sem personalizar, sem se intrometer nos direitos ou deveres dos outros candidatos. Oposição fez dele o alvo, exclusivo. Pouco apresentaram propostas, pouco discutiram ideias. Só falavam de Miguel Albuquerque.

Miguel Albuquerque candidatou-se às eleições regionais. Ganhou-as confortavelmente. O PSD venceu em quase todos os concelhos, perdendo apenas em Machico (para o PS, por pouco) e em Santa Cruz (para o JPP). A Oposição desatou logo a bradar que com Miguel Albuquerque nem pensar. Ou seja, os madeirenses votaram, disseram o que queriam, mas como o que queriam não era o que os partidos derrotados queriam, não podia ser. Só faltou defenderem que se repetissem as eleições, vezes sem conta, até à derrota de Albuquerque.

Miguel Albuquerque, enquanto presidente do PSD da Madeira, venceu as eleições europeias. Por ainda maior margem. Desta feita, só perdeu em Machico! Ganhou nos restantes concelhos. O que fez a Oposição: tentou logo relativizar e mais uma vez ignorar a mensagem que o povo lhe passou. Paulo Cafôfo, desta vez, não veio dizer que foi resultado da dinâmica nacional (o PS venceu as europeias, A AD perdeu-as). Manteve-se impávido e sereno, surdo às críticas feitas por seus correligionários.

Miguel Albuquerque foi empossado. Fez um programa, com várias propostas da Oposição, abrangente, consensual, tudo para que os madeirenses não fossem prejudicados, que medidas importantíssimas para todos os sectores da economia, para todas as pessoas, para a vida, enfim, dos madeirenses e dos porto-santenses pudessem entrar em vigor. Resultado: os que o acusavam de não alargar o programa mais versões, de não receber as propostas da Oposição criticaram, que não os tinha ouvido presencialmente.

Miguel Albuquerque pediu ao PSD e a membros do Governo que ouvissem os partidos da Oposição. Resultado: o JPP não apareceu (estava à espera de um convite por escrito) e os outros, como a desculpa do diálogo – já agora onde estava o tal diálogo quando PS e JPP se juntaram (por pouco tempo), decidiram as coisas sem ouvir os outros partidos?!) – já não pegava, voltaram à estaca inicial: com Miguel Albuquerque, não. O programa não passaria.

Face a esta teimosia, esta intransigência, o que fez Miguel Albuquerque: quis dar mais uma oportunidade ao diálogo, mais uma prova de boa-vontade e retirou o programa da discussão e anunciou a retoma de negociações com todos os partidos, em nome de um ainda maior consenso. Reação da Oposição: nem pensar, com Miguel Albuquerque é que não. O que interessa que as principais bandeiras dos partidos lá fiquem plasmadas? Que os madeirenses fiquem prejudicados? Nada. Que ele estava, com a retirada do programa, a prejudicar as pessoas. Como? Ouvi bem? Querer melhorar é prejudicar?

Ângelo Silva