Insultos à inteligência
Recorrer à chantagem atenta contra a credibilidade dos Políticos
Vencedores e vencidos revelaram ter aprendido muito pouco ou quase nada com a lição dada pelo povo, domingo passado, no âmbito das ‘Regionais’. Tudo porque se mostraram indiferentes à vontade expressa nas urnas, preferindo ensaiar contas de somar e de sumir em vez de concretizar consensos alargados em nome da governabilidade desta Região mergulhada na incerteza e com o futuro dependente, imagine-se, de abstenções circunstanciais do Chega.
Armaram-se em sonsos, talvez para disfarçar a completa ausência de noção do que estabelece o Regimento da Assembleia, e aceleraram processos feitos à pressa sem ter acautelado apoios prévios robustos junto dos que se poderiam constituir uma alternativa credível. Insultaram a inteligência da cidadania empenhada, com nova fornada de irresponsabilidade e falta de visão estratégica para os grandes dossiers, deriva que ditará uma Legislatura curta e de empate óbvio da economia.
Conjugaram verbos na forma errada e faltou-lhes a percepção do bem maior, assim como da necessidade de golpes de asa. Estabeleceram acordos efémeros, desbarataram capital acumulado nas urnas - mesmo que ao abrigo do desejo de marcar posição futura no xadrez político regional - e não pensaram nos reais interesses da população, ao contrário do que juram.
Perderam-se em incoerências garantindo aprovar o que todos defendem, mas chumbar a mesmíssima matéria se o partido no poder fosse de outra cor. Baldaram-se a compromissos na República porque a devido tempo não accionaram a mais do que lógica substituição de mandatos. Recorreram à chantagem para acautelar lugares. Tiraram férias quando era preciso trabalhar com afinco, a menos que esteja “tudo controlado” à distância, e falaram de peito inchado sem motivo que o justifique.
Numa era em que é recomendada a melhor das humildades na gestão da coisa pública, ver o secretário regional da Saúde rotular os opositores de “anormais, incompetentes e canalhas” e, desta forma, desconsiderar os que não lhe prestam vassalagem ou defendem convicções distintas das suas é, no mínimo, intolerável. Pedro Ramos não falava para o espelho da casa de banho, numa assembleia geral do seu clube ou num conselho regional do seu partido. As declarações incendiárias foram feitas durante a apresentação do POCIR, o que por si só devia merecer reparo e ditar o seu afastamento do cargo governativo, que tudo indica não só irá manter, como reforçar.
Como bem lembrava o deputado socialista Carlos Pereira, a “incontinência verbal estimula a violência gratuita”. Logo, sem níveis mínimos de urbanidade, sem boa convivência entre todos os actores políticos e sem bom senso, a Região dificilmente volta a ter tratamento diferenciado e atenção preferencial pelas melhores razões.
Depois de mais uma esfrega eleitoral que não desfez todas as dúvidas, mesmo que já haja governo minoritário indigitado, também é preocupante saber que pouco irá mudar na orgânica do executivo, claramente desajustada da realidade, porque focada, uma vez mais, nos membros escolhidos a quem se distribuem funções.