Nunca é tarde
Quem acha que já conheceu gente que chegue e não abre espaço para que outros entrem, deixou de viver
Não há tempos nem timings definidos na nossa vida para conhecermos pessoas especiais. E não tenho dúvida absolutamente nenhuma disto. Nem época ou estação. Pensar que só se fazem amigos na infância ou que os mais importantes da nossa vida se medem pelos anos que os conhecemos está completamente errado. Todos os dias nos cruzamos com gente diferente. Uns que nos passam ao lado e nem nos recordamos deles, outros que nos trazem más memórias pelo cheiro ou alguma atitude menos refletida e os que nos marcam de alguma forma. Dentro destas três categorias existem algumas outras. Por exemplo os que nos criam um primeiro impacto negativo por alguma razão mas que depois nos fazem mudar de opinião. Os que conhecemos e é amor à primeira vista e depois nos desiludem. Ou aqueles que nos passam indiferentes, um dia, dois, três e começam depois a fazer algum sentido. Esta é a magia das relações humanas e é por isso que são tão especiais, porque cada pessoa tem características próprias e tem fases ou momentos. Dentro destes há uns melhores e outros piores, uns mais ligeiros e outros mais difíceis o que interfere de forma brutal com o nosso estado de espírito.
Quem acha que já conheceu gente que chegue e não abre espaço para que outros entrem, deixou de viver. Claro que a experiência faz-nos perceber tudo de forma diferente, quando somos novos achamos que podemos abraçar tudo e todos, que temos mil amigos, que há espaço para tudo na nossa vida. Conforme vai passando o tempo vamos percebendo que nem todos são amigos, que uns voaram para longe, outros deixaram de fazer sentido ou seguiram caminhos diferentes. Nunca ficam muitos. Ninguém tem tempo para muitos amigos porque a amizade requer dedicação e atenção e no meio de toda a confusão sobra pouco para nos dedicarmos aos outros. A muitos outros. Depois há circunstâncias e momentos que nos ajudam de forma natural a perceber quem está por mero interesse ou quem veio para ficar. Situações difíceis e complexas que nos colocam à prova, a nós e a quem nos acompanha, que exigem profundidade e amor, exigem tempo. Cumplicidade, muitas vezes paciência e uma boa dose de sangue frio.
Nem sempre são os que conhecemos há mais tempo que nos conhecem melhor e aparecem nessas alturas de maior aperto. Há quem conhecemos ontem e tenha melhores intenções do que os que trouxemos de uma vida inteira. Há quem acabámos de conhecer e faça todo o sentido na nossa vida, de tal forma que nos perguntamos onde teria andado essa pessoa este tempo todo. Nem sempre damos de caras com “os nossos” logo no princípio. Às vezes é preciso escavar, sofrer, procurar. Errar. Importante acima de tudo é conseguirmos estar disponíveis para receber quem nos quer bem e quem vem para somar. Como no amor. Não tem mal só acertarmos à segunda, terceira ou quarta. Não tem mal não acertarmos. O que não devemos é deixar de acreditar, não devemos deixar de sonhar ou de procurar. Não devemos desistir. Muitas vezes encontramos quem nos acrescente e nos valoriza, depois de várias desilusões. Se não nos mantivermos abertos a entender tudo o que nos pode acrescentar no dia a dia, nunca conseguiremos perceber que a nossa história é feita de todos os momentos e que há sempre espaço para encontrar algo de diferente que nos pode transformar.
É por isso que não há idade para construir amizades profundas nem tão pouco há idade para encontrar o amor verdadeiro. Não há sequer um limite. Há sempre lugar na nossa vida para procurarmos o que nos faz falta e para abraçarmos o que nos faz sentir especiais. Quando encontramos esse estado, seja lá quando for, é altura de o aproveitarmos, até quando for possível, até onde der. Não há idade para viver e outra para existir, é sempre tempo de acrescentar, de tentar, de acreditar. Nunca é tarde para ir atrás nem sequer para sermos felizes. Pode parecer estúpido mas todos os dias, mesmo os que parecem mais cinzentos, são uma nova oportunidade.