Mulheres afegãs são vítimas de crimes contra a humanidade cometidos pelos talibãs
O relator da ONU para os direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, afirmou hoje que os talibãs podem estar a cometer crimes contra a humanidade contra as mulheres e raparigas afegãs, como o de perseguição com base no género.
"Nas minhas consultas com sobreviventes no Afeganistão, em particular mulheres, estas sublinham que o que as suas experiências descrevem pode ser chamado de 'apartheid' de género e apelam a que isto seja reconhecido como um crime contra a humanidade", afirmou Bennett ao apresentar um novo relatório ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, Suíça.
Bennett defendeu que existe uma responsabilidade coletiva - incluindo por parte da comunidade internacional - para desmantelar este sistema e levar os responsáveis à justiça.
O relator da ONU alertou para o facto de este sistema de opressão estar a intensificar-se, depois de as autoridades afegãs de facto terem aprovado, desde o ano passado, 52 decretos que aumentaram as restrições impostas às mulheres.
Entre as medidas mais recentes, o regime talibã anunciou na semana passada que os salários das funcionárias do Estado, que anteriormente estavam proibidas de trabalhar, seriam reduzidos ao mínimo.
"O afastamento das mulheres dos serviços públicos afeta ainda mais a sua capacidade de serem vistas e ouvidas e de participarem nos processos de tomada de decisão que afetam diretamente as suas vidas", alertou Nada al-Nashif, Alta Comissária Adjunta das Nações Unidas para os Direitos Humanos, na mesma sessão do Conselho.
Os talibãs também negaram o acesso à educação a mais de três milhões de raparigas, impedindo-as inicialmente de frequentar o ensino secundário e, mais recentemente, excluindo-as das universidades.
O relatório de Bennett argumenta que esta privação de direitos das mulheres, associada a restrições à liberdade de circulação, retirou-lhes a autonomia económica e tornou-as dependentes de familiares do sexo masculino.
Além da perseguição baseada no género, Nada al-Nashif salientou também a dupla discriminação e a violência de que são alvo as mulheres pertencentes a grupos marginalizados, como as portadoras de deficiência, as pertencentes ao grupo LGTBIQ+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, queer, intersexo, assexual e outros) ou às minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, entre outras.