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The Muppets Show, ou como se popularizou em Portugal: Os Marretas!

Há muitos muitos anos numa televisão perto de si havia uma série que nos visitava uma vez por semana entrando sala adentro onde estávamos todos à espera das aventuras e desventuras de uma série de “bonecos” em forma de marionetas inventados por um iluminado Jim Henson que nos deliciavam com os seus trocadilhos mordazes e com as suas piadas “inocentes” plantando sempre a semente da vontade de esperar ansiosa e religiosamente pelo episódio da semana seguinte!

Eram os Marretas (tradução para português do The Muppet Show original)!

Kermit the frog, um simpático sapo verde e Miss Piggy, uma porca temperamental como qualquer estrela do showbizz tem de ser, eram os apresentadores do show onde também faziam outros papéis e incarnavam outras personagens, tipo saltimbancos dos tempos modernos, fazendo jus à idílica ideia circense que faz com que os artistas vistam vários fatos e sejam luz de várias personagens durante o espectáculo.

E por aí adiante com personagens que de uma forma ou de outra levavam a que a nossa imaginação encontrasse similitudes com alguém que já conhecíamos ou tinham cruzado os nossos caminhos, a começar pelos simpáticos e muito mordazes Statler e Waldorf que da sua frisa bem perto da boca de cena deixavam descoroçoado qualquer personagem que tropeçasse na asneira de não cair nas suas graças quando eventualmente tentasse ser engraçado

(e o que há de Waldorf’s e Statler’s por aí valha-nos Deus)!

Para animar as hostes estava Rowlf, um simpático cão que tocava piano e também fazia o papel de Dr. Bob nas cenas do Hospital, muitas vezes acompanhado pelo Fozie, um urso aprendiz de comediante, cujas piadas saiam invariavelmente mal puxando pelos comentários menos simpáticos dos simpáticos velhotes acima já referidos na sua frisa bem perto da boca de cena. Como em qualquer espectáculo saltimbanco algumas personagens mais estranhas davam corpo a outras estranhas e bizarras situações como o Grande Gonzo, uma excêntrica criatura tanto na personalidade como na aparência tentando sempre fazer os actos mais perigosos e bizarros (porque é isso que sabe e gosta de fazer e experimentar) ou mesmo o Dr. Bunsen Roneydey, um cientista sempre inventando geringonças que nunca funcionam de forma correcta e que inferniza a vida do seu assistente Beaker que é a sua cobaia em todas as experiências que nunca funcionam como deve ser, sem esquecer o famosíssimo Swedish Chef que no seu linguajar não inteligível ensinava e experimentava receitas muito pouco comuns que faziam as delícias imaginárias dos espectadores e acicatavam mais comentários dos ocupantes da frisa mesmo à boca de cena.

Para animar e acompanhar os convidados seja nas suas apresentações musicais, seja como fundo musical lá estava a banda residente “The Electic Mahem” liderada pelo carismático Dr. Teeth nos teclados e voz, Floyd Pepper no baixo e voz, Janice na guitarra solo e voz, Zoot no saxofone, Lips no trompete e, last but not least, o famosíssimo Animal na bateria que com a sua energia impunha o ritmo trepidante necessário para que o espectáculo fosse sempre em crescendo, o que quer que isso pudesse ser com aqueles personagens, a fazer lembrar um slogan de um programa noturno de rádio no velhinho Rádio Club Português que rezava assim – “nas horas mortas da noite nós somos o ritmo trepidante da vida”!

Outros havia que tentavam trazer olhares diferentes e um ar mais sério como Sam the Eagle, uma águia careca que tentava acrescentar cultura e algum conhecimento ao espectáculo sem no entanto o conseguir provocando jocosos comentários dos famosos ocupantes da frisa à boca de cena, sem esquecer o sobrinho do dono do teatro Scooter que era o assistente do apresentador Kermit the Frog, ou Sweetums, um monstro comilão com uma aparência horrível mas com um trato e uma personalidade gentil e prestativa.

No palco da vida encontraremos e cruzaremos certamente com inúmeras personagens que nos farão lembrar os “bonecos” inventados por Jim Henson como fazia Miss Marple, uma simpática velhinha criada por Agatha Christie que se lembrava sempre de alguém que conhecia na sua aldeia St. Mary Mead quando avaliava algum potencial suspeito do crime em que sempre se via envolvida, todos os dias vemos e ouvimos algumas largas dezenas de Waldorf’s e Statler’s, não sentados numa frisa à boca de cena, mas instalados em frente a câmaras de televisão soltando os mais imprevisíveis comentários com um ar sério de quem diz alguma coisa importante tal como Sam the Eagle o tentava sem conseguir ser bem sucedido, ou o sapo Kermit e a sua musa Miss Piggy sempre à bulha a exigir uma atenção que achava que não lhe ser atribuída, ou uma outra qualquer personagem que juntamente com os artistas convidados faziam com que nos divertíssemos brincando com as agruras da vida, como o tentam fazer todos os actores da vida pública quando nos querem fazer crer que o espectáculo que estão protagonizando não é para ser levado a sério.

Mas é, porque se a vida é um palco e num dado momento estão uns a encarnar umas quaisquer personagens e nós a assistir na plateia, numa frisa ou no balcão, no momento seguinte, pode ser um outro qualquer, qualquer de nós, a dar vida a uma outra personagem passando a ser actor de uma outra história de um outro programa com outros artistas convidados sempre debaixo da crítica mordaz de uns velhotes sentados numa frisa à boca de cena.

Se fizermos esse exercício facilmente encontraremos entre os nossos conhecidos semelhanças a personagens criadas por Jim Henson, seja no público anónimo, seja nos actores em papéis importantes, não esquecendo que no circo da vida todos temos de ajudar no espectáculo por vezes necessitando de fazer mais do que um papel, nem que seja experimentando um novo cozinhado sob as explicações sempre ininteligíveis do Swedish Chef.

Agora é o tempo do pano subir e cantar o genérico do espectáculo (em tradução livre):

É o tempo de tocar a música / É o tempo de acender as luzes

É o tempo de conhecer os Marretas / No espectáculo dos Marretas de hoje à noite

É tempo de fazer a maquilhagem / É tempo de se vestir bem

É tempo de subir o pano para / O espectáculo dos Marretas de hoje à noite!

Não sejamos então marretas no sentido que é dado nos dicionários (rezingão, teimoso), mas sejamos Marretas no sentido que nos é oferecido na série televisiva, mesmo que nos seja exigido participar em mais do que um papel, mas sejamos sempre alegre e honestamente protagonistas no Palco da Vida!