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Talibãs participam pela primeira vez nas conversações internacionais

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O Governo dos talibãs no Afeganistão anunciou ontem que vai participar na terceira ronda de conversações internacionais sobre o país, que decorrerá em Doha no final de junho, apesar de o emirado islâmico não ser reconhecido a nível mundial.

"O emirado islâmico decidiu participar na terceira reunião de Doha, depois de ter analisado a ordem de trabalhos", disse o porta-voz do regime fundamentalista afegão, Zabihullah Mujahid, numa breve mensagem de vídeo.

Esta é a primeira vez que os talibãs se reúnem com a comunidade internacional no âmbito das negociações de Doha,no Qatar, após as conversações de paz lideradas pelos Estados Unidos, que resultaram na retirada das tropas internacionais e na vitória dos talibãs em agosto de 2021.

No entanto, o Governo talibã ainda não decidiu quem fará parte da delegação, uma vez a comitiva poderá estar sujeita a medidas especiais por parte da Organização das Nações Unidas (ONU).

Vários dirigentes talibãs não podem viajar livremente, uma vez que estão sujeitos a restrições impostas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Na semana passada, os 'media' afegãos noticiaram o levantamento temporário das restrições aplicadas a vários dirigentes, incluindo Sirajuddin Haqqani, que é procurado pelos Estados Unidos sob a acusação de terrorismo.

Segundo a imprensa internacional, as restrições foram levantadas para permitir que possa ir a Meca.

Até à data, os talibãs rejeitaram os dois convites anteriores para participarem nas reuniões em Doha, alegando que a sua participação estava condicionada ao reconhecimento oficial pela comunidade internacional do seu "governo legítimo" e "única voz" do Afeganistão.

A terceira reunião de enviados especiais para o Afeganistão está agendada para 30 de junho e 01 de julho, com o objetivo de procurar soluções para a situação neste país assolado por uma crise humanitária e que continua a enfrentar grandes desafios em termos de segurança.

Os talibãs, que praticam uma interpretação estrita do Islão, reconquistaram Cabul em 15 de agosto de 2021, após uma ofensiva que levou ao colapso da administração patrocinada por uma força das Nações Unidas.

Fundado no início da década de 1990, o movimento nacionalista sunita tinha governado o Afeganistão entre 1996 e 2001, quando foi derrubado por uma coligação liderada pelos Estados Unidos, após os atentados terroristas de 11 de setembro desse ano.

Seguiu-se uma ocupação do país asiático por uma força internacional até agosto de 2021, durante a qual foram revertidas as regras mais restritivas que os talibãs tinham aplicado às mulheres, como a proibição do ensino.

Apesar de promessas de mudança relativamente ao primeiro governo, a restauração do Emirado Islâmico do Afeganistão traduziu-se numa redução dos direitos, com especial incidência nas mulheres e raparigas, e num isolamento internacional do país.

A então União Soviética estabeleceu relações diplomáticas com o Afeganistão em 1919.

O relacionamento bilateral foi afetado pela invasão russa do Afeganistão em 1979, no contexto da Guerra Fria, que desencadeou uma guerra que durou 10 anos.