Responsabilidade e bom senso
O impasse em que caiu a situação política não vaticina um desfecho auspicioso para a Região na próxima quinta-feira, quando for debatido e votado o Programa de Governo. O cerco fecha-se para isolar o PSD e o CDS que, com 21 votos, não conseguem aprovar o documento que abrirá a porta ao tão desejado orçamento. Se tal acontecer, a Madeira poderá ficar em gestão até Janeiro do próximo ano. O que é francamente mau, sob todas as perspectivas, como o DIÁRIO detalhou durante a semana. É mau em termos fiscais, económicos e sociais. É mau não haver estabilidade nem normalidade. Mas por que motivo partidos que combatem o PSD há 48 anos devem deitar-lhe agora a mão? Porque há razões atendíveis para que isso possa acontecer, não correndo ninguém o risco de perder a face ou beliscar a sua identidade ideológica. Em vez de se digladiarem na praça com argumentos que não acrescentam valor ao futuro da população, deveriam, antes, pugnar por estabelecer pontes de entendimento, exigindo, em troca desse apoio, a consagração de medidas que comprovadamente beneficiem a sociedade. Fugindo às coligações naturais dentro do círculo da direita ou da esquerda, há maioria clara no parlamento, se os deputados quiserem e conseguirem ultrapassar traumas pessoais e colectivos que dizem zero às pessoas. Entendam-se, dêem uma lição de maturidade e sejam parte da solução e não da continuação do problema. Mergulhar a Região em mais uma longa campanha eleitoral é a solução? Não! Estamos cansados de eleições. Que esperam os partidos que provocarem a queda do governo e a mais que previsível dissolução da Assembleia? É um clássico que está em todos os manuais de ciência política: vão provocar a vitimização do PSD, que será depois recompensado nas urnas. A História diz-nos isso.
Não há ‘dogma de fé’ que impeça os maiores partidos do arco da governação (PSD e PS) de se entenderem em pontos estratégicos.
Convém ter presente os resultados das eleições de 26 de Maio. Miguel Albuquerque ganhou-as. Obteve mais 20 mil votos e mais 8 deputados do que o PS. Não foi “poucochinho”. No passado dia 9 de Junho, nas ‘Europeias’, o PSD-M averbou mais de 45 mil votos, muito à frente do PS. Para o bem e para o mal e perante a adversidade e o desgaste de 48 anos do mesmo partido no poder, Albuquerque tem registado vitórias consecutivas. O PS e Paulo Cafôfo, não. Facto!
O presidente socialista faz, por isso, mal em fechar de imediato a porta a qualquer conversa com os social-democratas. Deve esgotar possibilidades, cenários, exigir garantias claras e inequívocas da aprovação das suas principais bandeiras. Mostraria desprendimento e revelar-se-ia responsável, à altura de qualquer responsabilidade no futuro. Convém ter presente que os socialistas têm perdido terreno nos últimos anos, não conseguindo fazer estremecer as estruturas do poder regional. Um entendimento entre PSD e PS, como já aconteceu no passado, na República, daria um ano para que este governo regional mostrasse ao que vem e se estava à altura de cumprir os entendimentos parlamentares a sério. Isso não o diminuiria como partido alternativo. Ou ainda acredita o PS que, juntamente com o JPP, constituirá uma via alternativa imediata na governação da Região? A frieza aritmética continua a dizer que não. Sai reforçada a ideia que não será possível governar, de facto, nos tempos mais próximos, a Região, sem que PSD e PS se entendam. Para além de constituir-se como solução, obliteraria muito do ruído radical que pulula nos partidos mais pequenos. Para além de capitalizar politicamente um acordo onde constasse medidas com a sua assinatura, o PS teria sempre a faculdade de avançar com uma moção de censura, após a viabilização do orçamento, caso houvesse uma ruptura.