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Regionais 2024 Madeira

Bispo do Funchal confessa estar “cansado de eleições”

D. Nuno Brás pede aos deputados “que sejam capazes de esquecer os interesses do partido e as lutas internas e externas e que governem a casa comum que é a nossa”

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O Bispo do Funchal, D. Nuno Brás, confessou, numa publicação no Jornal da Madeira, tutelado pela Diocese do Funchal, estar “cansado de eleições”, partilhando um sentimento que acredita ser comum a muitos madeirenses.

“As eleições são, talvez, o momento mais alto da democracia, esse sistema político com muitos defeitos mas sem outro que seja melhor. Muitos são os países onde, infelizmente, ainda não é possível ao povo exercer esse acto de soberania”, escreve o Bispo do Funchal num artigo de opinião publicado no Jornal da Madeira ontem, dia que coincidiu com a data da entrega do Programa de Governo na Assembleia Legislativa da Madeira. 

Aludindo ao momento político de instabilidade, em que o executivo de minoriam liderado por Miguel Albuquerque, procura reunir consensos, vertendo para o Programa de Governo medidas propostas pela oposição – conforme o DIÁRIO deu conta na edição online e impressa - para agradar a todos e evitar o ‘chumbo’, D. Nuno Brás diz mesmo estar agastado com o número de vezes em que os madeirenses foram chamados para ir às urnas.

Confesso que, depois de ter vivido um ano em sistemáticas campanhas seguidas dos respectivos actos eleitorais, estou cansado de eleições. eu e creio que muitos dos madeirenses e do resto do povo português" D. Nuno Brás

A redução fiscal, mais investimento na saúde e nos apoios sociais, e a melhoria da mobilidade, incluindo a ligação por ferry ao continente, são algumas "propostas comuns" entre os partidos na Madeira referidas no Programa do XV Governo Regional.

O documento orientador para os próximos quatro anos, ontem entregue ao presidente da Assembleia Legislativa da Madeira chefe do executivo do arquipélago, o social-democrata Miguel Albuquerque, é composto por mais de 170 páginas, com medidas distribuídas por oito capítulos, correspondendo às secretarias regionais.

Numa rara explanação sobre política, o Bispo exorta ao entendimento e à responsabilidade dos representantes políticos, entendendo que devem saber interpretar a decisão do povo.

“Os sucessivos actos eleitorais chegaram a resultados muito semelhantes na sua substância. Sei que em grande parte não poderiam ter sido evitados. Mas creio que, neste momento, as decisões do povo são claras, para todos e em todos os níveis”, escreve D. Nuno Brás.

Sem parábolas, o Bispo é directo na mensagem de apelo ao consenso, o fim das clivagens e elevem o dever para com os eleitores, contribuindo para que sejam parte da solução e criem condições de governabilidade, mesmo com o executivo em minoria no Parlamento.

“Sem maiorias absolutas, com um grande leque de partidos, penso que aquilo que, agora, o povo pede aos políticos que o representam é, tão simplesmente, que governem”, exortou, colocando em segundo plano as guerras de poder e indo ao encontro de uma resposta para os pobres e mais desfavorecidos.

Que sejam capazes de esquecer os interesses do partido e as lutas internas e externas, e que governem a casa comum que é a nossa, nos seus diferentes níveis. Que o façam procurando o que é melhor para todos. Que olhem em particular para os mais pobres e tendo sempre em conta a dignidade humana. E que o façam dialogando e chegando a decisões onde todos se possam ver representados”. D. Nuno Brás