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Há falta de comparência de uma alternativa sólida

O ambiente político na RAM está envolto numa tensão profunda que tem despertado comportamentos inusitados e desaconselháveis. O tempo que vivemos exige prudência, tranquilidade e moderação. Quem actua diferente amplifica a instabilidade e afasta os cidadãos.

O protesto é salutar em democracia. Mais do que isso é mesmo desejável. Mas a dimensão do ruído, a par de uma espécie de campeonato sobre quem denuncia mais e com mais força, é arrasador da credibilidade, sobretudo daqueles que não devem aparecer aos olhos dos eleitores como arautos da desgraça. Daqueles que se têm mostrado incapazes de atraírem a simpatia do povo, pela desconfiança que transmitem na difusa e quase imperceptível construção de uma solução alternativa que acrescente competência, rigor e transparência. Fica apenas, no emaranhado de mensagens que deambulam entre o protesto e a denúncia, mostrando uma incapacidade tremenda de se constituírem como solução. Uma instituição partidária que tem ambições de governação precisa reconhecer que errou e que falhou. Mais. Tem de avaliar e identificar o erro para corrigir e se posicionar no tabuleiro democrático para responder aos anseios do povo. É isso que o povo quer e procura . A ausência de uma resposta inequívoca, afasta o partido do radar do interesse dos eleitores. É isso que está a acontecer com o maior partido da oposição. Infelizmente, os eleitores não têm reconhecido o actual líder do PS M como uma solução alternativa para resgatar a RAM do lodo em que o PSD a enfiou, com muitos prejuízos para a população. Mas, o povo é sábio e depois de três eleições, em menos de 6 meses, num contexto político profundamente hostil ao partido do governo, não foi capaz, num processo democrático de total normalidade, de dar um voto de confiança à liderança do PS M, mostrando, pelo contrário, que os eleitores não reconhecem a credibilidade e a capacidade de substituir a governação em curso. Foi assim nas legislativas nacionais, foi assim nas legislativas regionais e voltou a ser assim nas eleições europeias, onde a ausência de candidatura do JPP nem sequer ajudou ao desvio de votos para o PS M.

Sem assumir a necessidade de reflexão ou procurar compreender as razões de tamanho falhanço, acelerou para uma outra etapa, sem qualquer rigor ou análise ponderada. Apresentou, às três pancadas, uma coligação construída, num ambiente de amadorismo revoltante, tendo em conta a necessidade de transmitir rigor e solidez a uma eventual alternativa. Mais. Um ensaio de coligação que foi apresentado num tempo absolutamente errado que, aliás, acabou por comprometer a solidez da parceria, com as declarações contraditórias de parte a parte sobre a liderança dessa solução. Toda esta espécie de encenação política, porque terminou em poucas horas, acabou apenas revelando motivações internas, uns para tapar maus resultados, outros talvez por excesso de voluntarismo!

Se isto pode alimentar jornais e notícias, também intoxica a credibilidade dos protagonistas e aumenta a ideia de incapacidade, colocando os eleitores à margem.

O meu conselho, por enquanto, e tendo em conta o momento político de indefinição, é que o PS M assuma uma oposição com qualidade e, sobretudo, comece a dar os passos necessários para construir a tal alternativa. Só possível se assumir erros e responsabilidades! De resto, a probabilidade do povo ser chamado novamente a eleições é hoje muito efectiva. Porém, esse caminho só se faz com reflexão e consequente mudança que transfira para os eleitores a confiança que os convence a mudar. Mais importante é que se vislumbre uma mensagem de capacidade para poder substituir um governo que se aguenta por absoluta falta de comparência credível de quem tem a obrigação de mostrar o caminho alternativo. Mas deixo ainda um aviso: fazer tudo igual, esperando resultados diferentes está amplamente demonstrado que não resulta.