Justifica-se o alerta aos turistas britânicos sobre o mosquito da dengue na Madeira?
Nos últimos dois dias, vários órgãos de comunicação social do Reino Unido divulgaram alertas de especialistas de saúde dirigidos aos viajantes britânicos que apontam para a subida do risco de uma epidemia de dengue nos países do sul da Europa. Há diversas notícias que referem que o serviço nacional de saúde daquele reino (NHS-National Health Service) considera que a dengue é um risco em “destinos de férias europeus como Croácia, França, Itália, Espanha e Portugal e Madeira entre a Primavera e Novembro”. São feitas recomendações aos turistas sobre cuidados que devem ter para prevenir a doença e sintomas a que devem estar atentos. Será que se justifica este alerta?
A dengue é uma doença com grande expressão a nível mundial e é provocado por um arbovírus. Não é transmissível directamente de pessoa para pessoa e o ser humano só o contrai se for picado por um mosquito infectado. O mosquito ‘Aedes aegypti’, que pode ser vector de transmissão desta doença, foi detectado na Madeira em 2005 e desde logo passou a monitorizado pelas autoridades. No final de 2012 houve um surto de 2.170 casos de dengue na Região.
As autoridades de Saúde da Madeira, em colaboração com câmaras municipais e outras entidades, implementaram uma estratégia de prevenção e controlo, que abrange, entre outros aspectos, campanhas de informação à população e a detecção e eliminação dos criadouros de mosquitos, normalmente espaços com águas paradas. Foi também desenvolvido um programa de monitorização do número de mosquitos e dos seus ovos, através de um conjunto de armadilhas espalhadas por todo o arquipélago.
Este sistema de recolha de informação gerido pela Direcção Regional de Saúde, cujos dados são publicados todas as semanas, permite perceber a evolução da população de mosquitos. Ora, os dados mais recentes, não sendo alarmantes, justificam uma maior atenção. Desde o início do ano 2023 que se regista uma subida gradual do número de ovos e de mosquitos, sendo que há várias semanas em que os valores são os mais altos desde o período crítico de 2012. Para que se tenha uma ideia, desde 3 de Março até 2 de Junho de 2024, foram detectados 10.317 ovos e 151 mosquitos, quando no período homólogo de 2023 tinham sido 6.178 ovos e 131 mosquitos.
Além de uma maior presença do vector de transmissão da dengue, verifica-se a sua disseminação por mais freguesias e sítios da Madeira. No final do ano passado, os técnicos do Departamento de Ciência da Câmara Municipal do Funchal verificaram pela primeira vez a presença do mosquito em locais situados acima dos 400 metros de altitude, nas freguesias de Santo António, São Roque e Monte.
Apesar de haver um aumento dos casos de dengue a nível mundial, na Madeira, para já, não existe qualquer alerta de saúde pública nem sinal de novo surto da doença. A este propósito, a directora regional de Saúde, Bruna Gouveia, revelou ao DIÁRIO que desde 2022 só foram diagnosticados quatro casos de dengue na Região, que foram “todos importados de países da América do Sul e África”.
De qualquer modo, o aumento do número de mosquitos potencialmente transmissores da dengue e a sua disseminação pelo território são duas razões para os especialistas de saúde pública britânicos fazerem alertas aos viajantes que se dirigem para determinadas regiões e países.