O povo é sábio e está a ver tudo

A obra do Hospital pode parar. Milhares de funcionários públicos aguardam a atualização de carreiras e de remuneração, há vários investimentos públicos e privados em risco de não irem avante, há famílias à espera de verem reforçados os apoios sociais, há programas na Saúde a aguardar, há professores, enfermeiros, médicos e bombeiros a desesperar. Há impostos para baixar, empregos para garantir. Tudo porque não há programa de Governo e um Orçamento.

E não há e até podem não haver, se alguns partidos da Oposição teimarem em fazer política, em “brincar aos partidos” com uma questão tão séria. Se teimarem em colocarem acima dos interesses dos madeirenses e dos porto-santenses as suas aspirações partidárias e pessoais, os seus amuos, as suas teimosias.

O povo, estejam certos, quer é ver mais pão à mesma, mais comida no prato, transportes mais baratos, mais dinheiro nas suas contas, ter trabalho e ver a economia da Madeira a florescer, para bem de todos.

O povo, estejam certos, quer é estabilidade, quer a Madeira a prosseguir com o mesmo caminho. Aliás, como se demonstrou, à saciedade, nos últimos atos eleitorais. Todos com o mesmo vencedor, todos tendo como resultado o reforço da liderança de Miguel Albuquerque.

O povo, estejam certos, mesmo até os que não votaram em Miguel Albuquerque, não quer ir de novo para eleições. Não quer ver o futuro da Madeira adiado. Mais dizendo, não quer ver o seu futuro e o dos seus filhos adiados.

O povo, estejam certos, não quer continuar a viver em duodécimos, a ver o relógio passar, os dias a somar, sem medidas a se concretizar.

O povo, estejam certos, não gosta de ver quem perdeu a tentar vencer na secretaria, com acordos à pressa e sem definir, logo à partida, coisas primordiais, como, por exemplo, quem seria o presidente do Governo.

O povo, estejam certos, não gosta de quem diz ontem que “não seria” por eles que não haveria Governo e depois, hoje, já diz que não haverá Governo. Ainda por cima, por birra.

O povo, estejam certos, entende que só deve ser culpado quem assim o for considerado pelos tribunais. Como aliás se apercebeu pelos recentes resultados eleitorais. Até porque o povo sabe, como tem sido público, que acusar é fácil, apontar o dedo também. E o povo também sabe que na política parece valer tudo, inclusive conspirações, detenções e outras coisas que tal que acabam em nada.

O povo, estejam certos, que seria um péssimo precedente aceder-se a chantagem. Isto de se dizer que só se aprova um programa se determinada pessoa não for o presidente do Governo tem muito que se diga. Logo à partida, que, afinal, não é o programa que está em causa, mas sim a pessoa. E isso é mau. Em segundo lugar, quer dizer que esse partido quer mandar em casa alheia. Em terceiro lugar, aceder à chantagem, como se sabe, coloca sempre o chantageado na mão do chantagista.

O povo, estejam certos, não quer nada disto. Quer que haja entendimento, respeito pela sua vontade e que a Madeira tenha, rapidamente, um programa e um Orçamento que permitam governar.

O povo, estejam certos, pretende apenas que o ouçam, que o entendam e que se apercebam do que é melhor para ele. Não quer respostas e contrarrespostas, não quer ameaças, não quer birras, não quer gente e renegar programas sem sequer os terem lido.

O povo, estejam certos, “não paga a traidores”. Não premeia quem o trai. No fundo, todos sabem disso. O problema é que ninguém quer voltar atrás no que disse e dizer sim ao programa, dizer sim ao que é melhor para o futuro dos madeirenses e dos porto-santenses-

O povo é sábio. Está a ver tudo. Sabe o que quer e gosta que respeitem as suas vontades. Vontades essas deixadas claras nas eleições. Nas várias eleições. Esperemos agora que todos sejam sábios e saibam ler o que é melhor para o povo. Mesmo que não seja o melhor para os seus partidos, para os líderes destes partidos e para as suas ambições.

Ângelo Silva