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A falácia do custo irrecuperável

O conceito de custos irrecuperáveis tem sido discutido por economistas desde o séc. XIX e amplamente investigado no campo da economia e psicologia comportamental por investigadores como Daniel Kahneman, psicólogo e prémio Nobel da Economia.

É o erro/viés cognitivo que nos impele a tomar decisões com base em investimentos anteriores que não podem ser recuperados, em vez de nos concentrarmos nos custos e benefícios futuros. Por outras palavras, é a tendência de continuar uma ação porque já se investiu tempo, dinheiro ou esforço nela, mesmo que desistir e escolher uma alternativa diferente seja a melhor decisão. Sendo o ser humano naturalmente avesso à sensação de perda, arrisca-se à perda de clarividência sobre quando deve “recolher as fichas” e alterar determinado caminho, persistindo em decisões e comportamentos irracionais e pouco benéficos.

Na prática, este fenómeno de “agora tenho de ir até ao fim” sucede em várias áreas da nossa vida, onde a lógica da falácia do custo irrecuperável faz com que pensemos que abandonar uma relação, ou outro algo, resultará na perda do investimento feito, mesmo que continuar cause mais sofrimento:

São as relações laborais ou os relacionamentos amorosos ou amizades infelizes, em que permanecemos porque já investimos muito emocionalmente, tempo e esforço;

São os investidores que continuam a apostar em ações, negócios em queda ou jogos de casino, na esperança de recuperar as perdas anteriores, porque já investiram demais para desistir, mesmo quando as perspetivas futuras são negativas, ou as probabilidades de ganhar são baixas.

É o livro ou o filme que começámos a ler ou a assistir, de que não gostamos, mas insistimos em concluí-los, ou o carro que dá problemas há anos, mas pelo que já se gastou em reparações torna-se difícil tomar a decisão de se desfazer deste;

E é o estudante que escolheu um curso universitário e, após alguns semestres, percebe que não gosta do campo de estudo e não se perspetiva satisfatoriamente nessa área. No entanto, decide continuar no curso porque já investiu significativamente tempo e dinheiro. A decisão de continuar é baseada no investimento passado (tempo e dinheiro) e não nas perspetivas futuras de satisfação e sucesso.

Passar por uma fase difícil num relacionamento, ter alguns problemas no veículo, ou não sentir entusiasmo inicial numa atividade, não terá de resultar necessariamente no abandono, pois esse seria um mau princípio para uma gestão equilibrada do rumo da nossa vida. Mas é importante ter presente que, todos nós, em determinado momento, poderemos atingir o ponto de não retorno e arriscar encetarmos uma fuga para a frente, que pode ser-nos prejudicial e a quem está à nossa volta.

É fundamental parar e analisar o mais friamente possível: ainda há potencial para um resultado positivo se continuar a investir os meus recursos e energia? De uma forma geral, o melhor preditor do comportamento futuro é o passado. Se até determinado ponto os relacionamentos, hobbies, amizades, trabalho, etc., não o serviram de forma positiva, provavelmente não o farão no futuro, e se uma situação afetar negativamente o seu bem-estar mental, sentir insegurança, ansiedade ou desesperança e o futuro não parecer bom, pode ser melhor fechar esta porta e permitir-se a si próprio a hipótese de outras se abrirem. Pergunte a si mesmo: “Qual é a melhor decisão a partir de agora?”