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Gente feliz com lágrimas e onde há dinheiro, há sempre infâmia

Para o Pobre, os grandes não são os que brilham nos parlamentos, ou nos salões do jet-set, mais os que baixam ao tugúrio para escutar-lhes os gemidos

“A misericórdia desce do céu como refrigério da chuva sobre a terra. É uma dupla bênção: abençoa quem a dá e quem a recebe”. - Shakespeare

Mais teologia. Teologia alta. Um tratado composto de doutrina do sofrimento cristão, vivido e meditado e saboreado. Deus É. Deus subverte. Deus é subversivo. Deus é uma entidade indefinível. É simplesmente uma atmosfera e uma aspiração Deus é Amor, Amado. Eu também sou um intrépido, intimorato e indómito insurrecto social, mas esta é uma luta só minha, pessoal, solitária, pacífica mas bipartidamente musculada, silenciosa e intransmissível, através da minha proficiente individualidade. Nada de grupos, grupinhos, grupelhos, confrarias, academias, fundações, associações, instituições, assembleias, igrejas, seitas, comadres, compadres e outras organizações similares.

Nada absolutamente nada. Apenas a tríade: santidade, caridade e individualidade. Não sou homem de nenhum sistema. Só procuro ter uma palavra iluminada em lugares silenciosos. É um prazer solitário. Acredito na santidade e no espírito. Toda a minha vida está nisto. Sem malícia para ninguém apenas com caridade para todos! Que se acautelem os homens que fazem e dão leis aos homens. Os Pobres, acusam o mundo. Aquela criança angelical, aquele refugiado, aquele migrante, aquele mendigo, aquela mulher abusada, aquela viúva pobre, aquele ancião desprotegido, aquele desempregado, aquela família despossuída, aquela criança que pereceu por inanição, aquela criança vítima de filicídio, aquela família disfuncional, aquela criança famélica, aquele soldado tombado no campo de batalha das guerras dos tiranos sanguinários e déspotas, aquela criança molestada sexualmente por indecorosos, abjectos e sórdidos padrecos católicos (e de todos os credos), aquela família sem tecto, aquela “prostituta” que oferece o corpo puído para poder sobreviver num acto de gratificação sexual, enquanto pede o que é seu, acusa o mundo. Acusa-te a ti. Que linda palavra! Que formosura cristã! Que linda melopeia! Ajudar! Fazer o bem! Nobilitar! Enobrecer! Estar em toda a parte onde há bem a fazer! Para conhecer a cidade, é necessário conhecer os seus becos, as vielas, os bairros, os muros velhos, os barracões, os casebres, os antros, os tugúrios, os lupanares e todos os cantos mais escuros e esconsos os chamados esgotos e as excrescências da cidade, a enxurreira social, por ali também se conhece a sociedade: são criaturas humanas, são também filhos de Deus. Com efeito, há mais humanidade numa barraca ou numa taberna do que nas assembleias ou nos salões literários. Os políticos, ardilosamente, maliciosamente, descaradamente, astutamente, serpentinamente, histrionicamente, sub-repticiamente e sem amor nem caridade (eles não conhecem nem sentem estes sentimentos altaneiros no coração) gostam de se pavonear nos fóruns, nos areópagos, nos convénios, nos debates, nos parlamentos e nos comícios para arrebanhar a turba e a cáfila de apaniguados boçais, e só aparecem com muita relutância nos locais mais lúgubres por altura das eleições. Eles nunca mudam. São imutáveis. O homem com poder é tendencialmente perigoso. Deixa de ver os limites do que é digno e indigno. O povo português é muito melhor que os seus políticos, eles não merecem o povo que têm. Observe-se o que se passa no país. Sinais evidentes de corrupção e falta de ética republicana. Em Portugal continental e nas regiões insulares. Acredito que é necessário alterar a ordem mundial por via da sociedade civil, devido ao mau funcionamento da democracia. O que vemos no nosso universo é que o mundo é conflituoso e a existência do homem é dramática. O discurso político carece de dimensão social. A justiça deve ser feita aqui e agora e não no outro mundo. O outro mundo é outra história. Morre-se de amor. Também se morre dessa doença cruel e implacável, que a sociedade moderna criou e parece não estar muito preocupada em exterminar – o desprezo pelos outros. Não gosto de palavras que escondem a verdade. Não gosto de palavras que ocultam a realidade. Não gosto de eufemismos, de linguagem eufemística. Saibamos repartir o pão. Menos previdência e mais Providência. Que venham todos esses filósofos, políticos de meia tigela e esses pensadores da Igualdade e da Fraternidade Humana, no que deram as suas falsas e sibilinas doutrinas, ou por outra, que remédio trouxeram à Miséria, através de tanto progresso, de tanta tecnologia, de tanta luz, ciência e tanta igualdade. Tanta filosofia, metafísica, cânones, escatologia e hermenêutica para quê? Defendamos os nossos irmãos. Todas as forças, Todos os corações. Todas as inteligências. Há sempre tristeza na minha alma. Sofrer por amor à justiça é sempre uma dor, um apostema. O Evangelho é torrente. Basta um cheirinho dele para inebriar e sentir eflúvios na alma. Com este sinal celeste vencerás todas as batalhas, porque só atingimos a verdade através de uma purificação interior, e não necessitarás, podes crer, de nenhuma reencarnação para atingires o Nirvana, o éter. Não temos outro meio para humanizar os costumes senão fazendo o bem. Precisamos de padres santos mas, infelizmente, e muitas vezes, ou quase sempre, apenas temos sacerdotes banais, medíocres, vulgares e com prédicas insonsas e sem qualquer halo de santidade. É a sacristia a defender o seu grupinho. Menos sacristia e mais amor e mais caridade. E mais rua. É pena. Mas, claro, que há também as devidas, honradas e santas excepções. A celipotência de Deus e o dínamo do Evangelho merecia melhores interlocutores e mensageiros. De profetas. Os crentes estão sedentos de palavras santas e ditas com santidade, galvanizadoras e salvíficas, que possam irradiar os nossos corações. Só entendo, acredito, compreendo, amo e aceito um Deus augusto, celipotente, cósmico, estelar, criador de todos os corpos celestes do Universo, misericordioso e subversivo. Eu cá vejo tudo às avessas. Inclino-me para esta classe de gente, os Pobres, e não acredito no que os ditos grandes dizem e fazem. Com eles não aprendemos nada. Absolutamente nada. Ter dinheiro e coração é já o Paraíso; coração sem dinheiro, é purgatório na terra. Mas ter só dinheiro é inferno. A Igreja e as coisas da Igreja vivem mais dos pobres do que das lucrecências dos ricos. Precisamos de homens e de mulheres com um cariz, seiva, húmus e uma textura poliédrica. A Cúria Romana é responsável por mais ateus do que Karl Marx, Nietzche e Freud juntos. Por outro lado a simonia e a mercancia são uma afronta para a Igreja e para o evangelho. Serviços religiosos não se pagam com dinheiro.

Não há nada mais pobre do que ser apenas rico. Para o Pobre, os grandes não são os que brilham nos parlamentos, ou nos salões do jet-set, mais os que baixam ao tugúrio para escutar-lhes os gemidos. Que admira que muitos andem às escuras, se os que deviam ser luz já não alumiam! São apenas trevas! Eu sei que é modesta a minha voz, mas enquanto ela é a expressão da voz da verdade e da justiça, gostava de ser ouvido atentamente. Falta no mundo quem dê atenção e ouça histórias de vidas esmagadas. No meio dos charcos aparecem também flores e são as mais viçosas. Este mundo que embora esteja a caminho de grandes progressos e também do Homem 2.0 e da Tecnologia 4.0, vai deslizando para um abismo do qual os homens na sua ingnara visão não dão conta. Deselegâncias, manipulações lágrimas, sangue, cinismo, incompreensões, ciladas, ardis, truques, vilezas, maquinações, emboscadas, malevolências, perigos, falácias, eis o nosso quinhão, mas a vitória é nossa. O Samaritano é que fica, os outros passam, desaparecem e morrem sem a mais ínfima glória. Felizes os que se deixam apaixonar pelos Pobres. Há mais de 46 anos que vejo, sinto, ajo, deploro e choro interiormente. Porém, o erro, a meu ver, é tomar o Homem por sucata e deitá-lo fora se ele não presta. Ora a verdade é que cada um é um somatório de valores e por via da vida, cada um é imortal. A caridade é uma força e que força. Eu gosto de ver lágrimas, gosto de quem chora por compaixão. Com efeito, há mais génio numa lágrima do que todas as bibliotecas do mundo. Como disse Raul Brandão, “uma vida resume-se em duas linhas, sintetiza-se em dois ou três factos. Se a vida fosse só isso não valia a pena vivê-la. A vida é muito maior pelo sonho do que pela realidade. Pelo que suspeitamos do que pelo conhecemos. Se nos contentarmos com a superfície, não há nada mais estúpido. Se nos quedamos a contemplá-la faz tonturas. É por isso que eu temo que a morte não tem só cinco letras, mas o mais belo, o mais tremendo, o mais profundo dos mistérios. Prepara-te”.

Com efeito, prepara-te ó rico e poderoso, tu que tens e gozas com todos os deleites que a riqueza proporciona, mas és, escuta bem, pobre muito pobre, paupérrimo, miserável em caridade, bondade e misericórdia. Não prestas para nada. Não vales nada. Ai, dos vencidos no dia do Juízo Final. Tonitruante será o clamor dos Pobres e de todos os explorados, os que “vivem” na sarjeta da sociedade. Sim, não faz mal! Vocês podem esboçar o vosso esgar e sorriso sardónico, bem como a vossa vil jactância e luxúria, enquanto tantos e tantos inocentes “vivem” na valeta. Tendo recebido tudo na sociedade sem nada dar em troca, chegou à riqueza, mas que uso fez dela? Que fez pelo próximo? Nada! O excesso de sucesso é um insucesso. É pecado capital. Até quando? Será que a besta vai vencer o anjo? Não! A misericórdia vencerá sempre, pois ela é perene e imorredoura. Tem o selo divino. Tu, amigo leitor, dilata, expande, fortalece, fecunda exuberantemente o teu Crescente Fértil Interior. Religiosidade, sim, mas religiosidade varonil e sem beatice, pietismo e sem ignorância. Apenas santidade e individualidade.

Mete medo falar desta maneira mas calar é impossível. Completamente impossível. Há coisas boas na vida se a partilhares. É através da Luz que nos tornamos conscientes das nossas limitações. O mundo é um espaço destruidor. Sê, pois, o Farol Luminoso do Mundo, pois só assim atingirás o teu acme. Coitados de nós, as pessoas felizes.