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Não podemos desistir da Madeira

A atual conjuntura política na Madeira é caracterizada por uma série de desafios e incertezas que requerem uma análise cuidadosa. À medida que nos aproximamos da discussão do Programa de Governo, liderado por Miguel Albuquerque e apoiado pelo CDS de José Manuel Rodrigues, torna-se evidente a complexidade e a sensibilidade desta situação.

Embora a mudança de liderança no CDS seja composta por novas figuras, a filosofia política subjacente parece não ter sofrido alterações significativas. O acordo entre o PSD e o CDS, estabelecido com o PAN na legislatura anterior, resultou numa instabilidade política, suscitando questões sobre a legitimidade do mesmo Governo Regional, que agora se apresenta, apenas sem Rui Barreto.

A dependência de Miguel Albuquerque da extrema-direita para governar a Madeira suscita preocupações adicionais quanto à sustentabilidade e coesão deste mandato. As recentes declarações do CHEGA e da Iniciativa Liberal, negando apoio ao Programa de Governo, levantam dúvidas sobre as garantias previamente obtidas por Miguel Albuquerque.

É crucial que os partidos de direita na Região reconheçam a importância do diálogo, dos acordos e das cedências numa negociação para garantir estabilidade política e governativa. A falta de responsabilidade demonstrada por esses partidos apenas contribui para a perpetuação da instabilidade, prejudicando os interesses dos madeirenses e portossantenses.

A persistência da Madeira na governação em duodécimos representa um obstáculo significativo para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas de longo prazo. Num contexto em que a Região enfrenta desafios socioeconómicos complexos, como a pobreza, a especulação imobiliária, a baixa escolaridade e a falta de oportunidades de emprego qualificado, é crucial uma ação governativa eficaz e comprometida.

O Partido Socialista merece reconhecimento pela apresentação de uma alternativa de governação, com o Juntos pelo Povo. Apesar das dificuldades em garantir uma maioria parlamentar, esse esforço demonstra um compromisso comum com a estabilidade e o desenvolvimento da Região. Torna-se essencial que todos os partidos com assento parlamentar deixem de lado as suas diferenças e trabalhem em prol do interesse coletivo. A Madeira não pode continuar refém de disputas partidárias e egocentrismo político.

Por outro lado, a atual situação na Madeira revela uma realidade preocupante, onde cerca de 80 mil madeirenses vivem com um rendimento igual ou inferior a 600€, colocando a Região como uma das mais pobres da Europa. Este cenário reflete uma economia fragilizada, onde as disparidades socioeconómicas são evidentes.

A economia regional tem sido notavelmente influenciada pela dependência excessiva do setor do Turismo e de empresas internacionais ligadas ao Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM). No entanto, é importante salientar que o CINM pouco contribui para o desenvolvimento real da Madeira, numa análise comparativa entre as contribuições e o emprego que criam. Estamos perante uma vulnerabilidade económica permanente.

A economia madeirense tem-se perpetuado numa lógica de baixos salários e subqualificação, com uma elevada dependência das receitas do IRC provenientes do Turismo e do CINM. Esta dependência tem contribuído para uma estagnação no desenvolvimento dos setores produtivos regionais e para a manutenção de uma economia pouco diversificada e vulnerável a choques externos.

O preço médio de arrendamento de habitações na Madeira ultrapassa os 1500€, o que representa um fardo insustentável para a maioria dos madeirenses, cujos rendimentos líquidos não conseguem acompanhar essa realidade. Esta situação agrava ainda mais as condições de vida da população e evidencia a urgência de medidas para enfrentar os desafios estruturais que a Região vivencia.

Diante destes números preocupantes, torna-se claro que a Madeira necessita de uma abordagem política e económica estável e mais assertiva. É fundamental diversificar a economia, investir na qualificação da mão-de-obra e promover políticas de desenvolvimento que reduzam as desigualdades sócio-económicas.

A construção de uma economia mais resiliente e inclusiva requer um esforço conjunto por parte de todas as forças políticas, das empresas e da sociedade civil. É tempo de romper com uma lógica de dependência e promover um desenvolvimento verdadeiramente sustentável e equitativo para todos os madeirenses.