Saco vazio não fica de pé
Este parece ser o nosso fado. Um destino fatalista e dramático. Hoje, por razões bem diferentes dos tempos mais remotos. Tudo se transforma em instrumento de política partidária, perante a perspectiva de perder cargo(s) público(s) acumulado(s) ao longo dos anos e aos seus poderes. Ao ritmo de uns solavancos democráticos, trata-se “a plebe” ou “os súbditos “ com a ligeireza de quem pensa que todos lhe devem e ninguém lhe paga. O desesperado instinto de sobrevivência em determinado status social sobrepõe-se até à decência. Procura-se fins, descuidando os meios numa nebulosa de procedimentos cujo vale-- tudo provoca incomodativa vergonha alheia.
Muda-se rapidamente de percepções e exigências e molda-se facilmente pensamentos e opiniões, pois considera-se mais importante o brilho dos sapatos do que as solas já gastas. Na convicção/ilusão de conseguir enganar tudo e todos ao mesmo tempo, o tempo todo, com a pesporrência que lhe é peculiar, não se vislumbra qualquer imperativo de justificação, nem de actos nem de factos. São condutas eticamente questionáveis. Segundo reza a história, no “convento” “não bate a bota com a perdigota” dizem os que “vivem” lá dentro.
A mentira banalizou-se e tornou-se o arquétipo que, nas redes sociais e noutros meios de comunicação, é aceite como a suprema das verdades. Na falta de argumentos válidos e credíveis, na presença da divergência de pontos de vista, recorre-se ao insulto e ao enxovalho pessoal. Qual é o sentido de ter seres humanos, do alto da sua arrogância, a ditar ordens e a tomar decisões de consequências muitas vezes imprevisíveis? Quem se importa com nuances e interpretações subjectivas quando pode ter uma resposta simples, sim ou não, sem espaço para ambiguidades ou fora de contexto?
Precisa-se de inteligência, sensatez, sentido de justiça. Onde não temos problemas não os devemos criar, outrossim solucionar ou minimizar os já existentes.
A insularidade é uma condição só perceptível por quem já a viveu ou vive. No que toca ao Porto Santo (dupla ou tripla), adoecer é um susto e precisar dos serviços de Saúde de que não dispomos é uma tortura. Mas há mais. Muito mais. Os problemas que nos atormentam de tão velhinhos já se tornaram endémicos e, pelos vistos, insolúveis.
É preciso não esquecer que cada qual é para o que nasce. Correremos sério risco de fazer muito má figura se, apenas por vaidade, aceitarmos o convite para orquestrar uma filarmónica não distinguindo um “dó“ de um “fa”. A vaidade envenena-nos e cega-nos e os efeitos colaterais daí advindos vão repercutir-se em que menos os merece.
Saco vazio não fica de pé.
Madalena Castro