Professora Amélia Carreira ficou “lisonjeada, honrada e agradecida”
Condecorada com o título de Comendador da Ordem da Liberdade
Maria Amélia Carreira Rebelo foi a primeira condecorada na cerimónia comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas realizada no Palácio de São Lourenço, no Funchal. Recebeu do Representante da República o título de Comendador da Ordem da Liberdade.
“Claro que me sinto lisonjeada, honrada, agradecida e, pronto, muita saúde a quem me nomeou, muitas felicidades”, manifestou à imprensa, ainda antes de receber a condecoração.
Revela que foi apanhada de surpresa com tamanha distinção.
“Não [estava à espera], de todo. Já tenho uma coisa destas em casa que meu marido recebeu e agora sou eu, veja lá”, declarou com invejável vivacidade.
Sobre o passado profissional, não apenas como professora, mas sobretudo como co-fundadora do Sindicato de Professores da Madeira, considera ter sido apenas uma ajudante.
“Ajudei a fundar [o Sindicato dos Professores], mas não fui eu a fundadora. Houve muitas. Eu, enfim, foi como se fosse uma ajudante de cozinheiro. Descasquei as batatas, escamei o peixe e tal. E depois o chefe, fazia aqueles pratinhos bonitinhos, difíceis de tudo. Foi sempre muito difícil. Quem está num sindicato, está sempre à ‘cotovelada’ e etc. Nunca está quieto”, recorda numa alusão às lutas sindicais.
Já no que diz respeito à escola, rejeita comparar a escola do seu tempo com a escola de hoje.
“Não posso comparar, já não sou professora há muito tempo e os alunos eram outros. Tudo isso está diferente. Hoje usam computadores, que também tenho em casa, mas nem sei o que é. Não, não posso comparar”, concretizou.
Maria Amélia Carreira Rebelo
Nascida em Lisboa, a 4 de Dezembro de 1930, estudou no Funchal, cidade onde se radicou definitivamente após o casamento com o Dr. Fernando Rebelo, advogado e um dos principais rostos da oposição à ditadura na Região, fundador do Movimento Democrático da Madeira e o primeiro Governador Civil da Madeira após o 25 de Abril.
Licenciada em filologia românica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi professora durante várias décadas na Escola Industrial e Comercial do Funchal, depois Escola Secundária Francisco Franco, e na Escola Preparatória de Gonçalves Zarco, período durante o qual contribuiu para formar sucessivas gerações de alunos, nos quais deixou uma marca indelével.
Fez parte do grupo de professores e educadores que, ainda no tempo da ditadura, se juntavam em grupos de trabalho com vista à criação de um sindicato, processo que culminou a 12 de marco de 1978, já após a instauração da Democracia e do regime autonómico, com a criação do Sindicato dos Professores da Madeira, cujos órgãos sociais integrou durante décadas.
Integrou a oposição democrática ao regime anterior ao 25 de Abril, com participação activa em acções de contestação às políticas da Ditadura, nomeadamente aquelas que eram desenvolvidas por um grupo alargado de cidadãos que subscreveram a corajosa “Carta a um Governador” de 22 de Abril de 1969, documento de enorme importância histórica, onde se expressava um conjunto de reivindicações consideradas justas e necessárias para o desenvolvimento da Madeira.
Destacou-se na sociedade madeirense enquanto activista da emancipação da mulher e da igualdade de género, causas em que continua hoje empenhada, a par de manter um interesse abrangente pela actividade cultural da Região.
O seu percurso de vida é amplamente reconhecido pela comunidade madeirense, onde continua a constituir um exemplo de independência e participação.