"Temos, hoje, de olhar para ontem com a visão no amanhã"
Disse Ireneu Barreto esta manhã na cerimónia de entrega de condecorações
O representante da República para a Região Autónoma da Madeira, Ireneu Barreto, na alocução proferida esta manhã, na cerimónia de entrega de condecorações concedidas pelo Presidente da República, no dia 10 de Junho - Dia de Portugal, Camões e Comunidades Portuguesas- no Palácio de São Lourenço, disse que é necessário olhar para o futuro e ir além do "mero assinalar da data, mais ou menos rotineiro".
"Temos, hoje, de olhar para ontem com a visão no amanhã", disse o representante, apontando a reflexão de José Tolentino Mendonça, “As memórias são, como se sabe, moedas para serem usadas no país do futuro”.
Neste ano em que se completa já meio século desde a data em que fizemos a mais bonita revolução da nossa História, que deu finalmente ao povo português o direito de ser dono do seu destino, é fundamental celebrarmos o muito que a Liberdade e a Democracia nos trouxeram. E permitam-me agradecer a quem lá esteve empenhado nesse dia. Ireneu Barreto
Na cerimónia estiveram presentes os antigos militares Avelino Catanho Ribeiro e Henrique Artur Silva, dois dos dos cinco madeirenses que integraram a coluna militar que saiu de Santarém, na madrugada do dia 25 de Abril.
Obrigado pela coragem, pela determinação e pelo sentido de dever. Graças a vós, e aos vossos companheiros, vivemos aquele dia magnífico em que, como escreve Sophia, “como puro início / como Tempo Novo / sem mancha nem Vício”, Portugal voltou a respirar livremente. Ireneu Barreto
No seu discurso Ireneu Barreto expressou a "inquietação" que sente ao ver "algumas sombras que ameaçam a nossa Democracia, tão duramente conquistada".
Só quem nunca viveu em ditadura pode pensar em prescindir do seu direito a escolher e participar nas decisões sobre o nosso futuro, em nome da segurança e da suposta estabilidade sob as ordens de um qualquer líder iluminado. Nunca, em nenhuma latitude, a falta da Democracia conseguiu a felicidade para as pessoas comuns. Ireneu Barreto
Neste sentido, pede que continuemos a defender a democracia, afirmando que esta tem "imperfeições que devemos, a cada momento, tentar corrigir".
"Deixem-me referir brevemente três temas sobre os quais, sobretudo agora que passámos o período eleitoral, me parece importante refletir. Primeiro, as questões em aberto na lei eleitoral", começou por dizer, acrescentando "Se temos hoje um problema de falta de participação cívica, da qual a elevada abstenção eleitoral é uma consequência preocupante, é mister que se dê o direito de votar a todos os cidadãos portugueses que pretendem fazer valer a sua voz e, por limitações de contexto, não o podem fazer".
Abordou, ainda, a questão da qualidade da informação aos cidadãos: "Nestes tempos de excesso de palavras e de imagens, em que todos os factos aparecem como contingentes e a verdade parece estar em permanente neblina, é crucial termos uma Comunicação Social que informe com critérios de rigor, isenção e clareza, para evitar que os cidadãos, e sobretudo os jovens, por entre o ruído e a demagogia, se possam desencantar da Democracia. Mas, para tanto, é necessário que a sociedade garanta aos órgãos e profissionais da Comunicação Social as condições de independência relativamente ao poder político do momento e a outros poderes e interesses não escrutinados".
Em terceiro lugar, consolida que é necessário melhorar a qualidade do ambiente também a nível do debate político: "É importante que todos os eleitos privilegiem o debate de ideias, a tolerância pelas diferenças, a transparência dos seus actos e a credibilidade do seu exemplo, sob pena de estarem a promover soluções de demagogia retórica que nunca resolverão os problemas das pessoas".
A propósito da atual situação política regional, e porque o Governo Regional não dispõe de maioria absoluta, a vontade popular determinou o reforço do papel da Assembleia Legislativa como órgão fundamental na tomada de decisões. Ireneu Barreto
Assim, manifesta "esperança e convicção" de que será possível conseguir as soluções que permitam manter a Região "no caminho da estabilidade política, da paz social e do desenvolvimento".
Apesar de sermos "afortunados por vivermos nas mais belas ilhas do Atlântico", assenta que existem problemas sociais que não devem ser adiados, nomeadamente a criminalidade geral e a criminalidade violenta e grave, a violência doméstica, o alcoolismo e o consumo de drogas.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o conflito no Médio Oriente foram, igualmente, realçados pelo representante da República que afirma que "demanda-se a paz".
Na cerimónia foram ainda condecoradas três individualidades e uma instituição, sob proposta de Ireneu Barreto, que se destacaram pelos seus feitos e contributos para uma sociedade melhor:
- Maria Amélia Carreira Rebelo, com o título de Comendador da Ordem da Liberdade;
- Saturnino Figueira da Silva, com o Grau de Comendador da Ordem do Mérito;
- Zélia Maria Ferreira Gomes, com o Grau de Oficial da Ordem do Mérito;
- A Associação Presença Feminina, com o título de Membro Honorário da Ordem do Mérito.
"Neste dia em que celebramos o Dia de Portugal, é impossível olhar para o passado sem sentir orgulho no caminho que fizemos", rematou.