DNOTICIAS.PT
Artigos

A importância do pensamento crítico nos dias de hoje

Somos “poupadores cognitivos” e evitamos a sobrecarga cognitiva

A multiplicidade constante de informação que circunda o mundo contemporâneo suscita desafios complexos, que se acentuam por causa da nossa reduzida capacidade cerebral de processar dados em virtude da finitude dos nossos recursos cognitivos, o que torna premente desenvolver o pensamento crítico para analisar essa mesma informação de forma objetiva, avaliar argumentos de modo racional e tomar decisões esclarecidas.

Os nossos processos de decisão são efetuados, muitas vezes, por atalhos mentais. Decidimos frequentemente de forma simplificada, intuitiva e automática, e não de maneira mais racional, esforçada e calculada, o que é um mecanismo eficiente e positivo na maior parte das vezes, porque permite que a vida flua, sem considerarmos os prós e contras de todas as decisões a cada momento. Somos “poupadores cognitivos” e evitamos a sobrecarga cognitiva.

E este foi um mecanismo adaptativo durante a nossa evolução em que, de uma forma geral, o ambiente, desafios e sociedades eram muito menos complexas do que na atualidade, onde cada vez mais urge estimular capacidade de disciplina crítica para não cedermos em demasia a vieses e armadilhas cognitivas, e em que regras simples que utilizamos para tomarmos decisões rapidamente podem distorcer o nosso raciocínio.

São exemplos dos muitos vieses cognitivos que usamos o viés de confirmação - buscar, interpretar e lembrar informações que confirmam o que já acreditávamos; o de disponibilidade - sobrestimar a importância das informações que estão mais facilmente disponíveis; o de ancoragem - depender fortemente da primeira informação recebida; o de representatividade - julgar a probabilidade de algo baseando-se em quão similar é a algo conhecido; o de atribuição - atribuir causas externas aos nossos fracassos e internas às dos outros, e vice-versa quanto aos sucessos; o da simplicidade - preferir explicações simples ou soluções diretas para problemas complexos, mesmo que inadequadas ou incompletas; o de coerência - manter uma decisão mesmo que novas evidências sugiram que foi incorreta; e o efeito de halo - generalizar uma impressão positiva ou negativa de uma pessoa com base numa única caraterística ou experiência.

Contrariar estas tendências e impulsos humanos passa pelo reconhecimento e consciencialização dos mesmos, ser capaz de analisar reflexivamente as informações, pausando e refletindo sobre o próprio pensamento e os nossos motivos, diversificar fontes e perspetivas, praticar um ceticismo saudável, ao lidar com problemas complexos utilizar métodos sistemáticos de análise, tomar decisões baseadas em evidências ou boas práticas, procurar outras perspetivas, o debate construtivo e a colaboração e evitar ficar dependente de uma perspetiva e história única que a nossa mente está a construir.

Capacitar indivíduos e comunidades com este tipo de ferramentas fortalece não meramente a capacidade de tomar melhores decisões e lidar com a complexidade e a incerteza no nosso dia a dia, de maneira mais informada e ética, mas, acima de tudo, contribui para uma sociedade mais resiliente e colaborativa, mitigando riscos, que já vivenciamos, de maior manipulação, polarização e fragmentação social.