Sonhos de criança

Não sei se chame ambição, ou se chame sonho, a um alvo que estando em nossa mira, mas que, o nosso subconsciente nos avisa, daquilo que pode ser uma miragem.

Evidentemente, que falo do sonhar acordado.

Nós adultos, conscientes das adversidades da vida, acreditamos que, nem todos os sonhos são possíveis.O mais difícil, é fazer uma criança aperceber-se da impossibilidade dessa realidade.

Elas são férteis em sonhar, acreditando que todos os sonhos são possíveis, sonhos que vão desde o possuir um determinado brinquedo, uma peça de vestuário, um afeto, um carinho e muitos mais.

Recordo o sonho daquela criança, que estava internada num lar, com quem compartilhei alguns pedaços da minha vida, cujo sonho era algo inatingível. Seu sonho era voltar para a mãe. Ela nunca dizia, se eu voltar para minha mãe, mas simplesmente dizia, quando eu voltar para a minha mãe. Notava-se uma enorme carência de afeto, o desejo de voltar para alguém, a quem o álcool ceifara a vida, que era a cara-metade de outra parte também ela alcoólica, o pai dessa criança. Não me apercebi de outro qualquer sonho nesta criança, apesar de outras carências evidentes, era o amor, a carência mais marcante no seu olhar.

Boa noite pai, boa noite mãe, palavras tão doces, mas vãs para muitas crianças, que não têm a quem o dizer, na hora de ir dormir, ou um bom dia ao acordar, mas sonham; sonham, com a união dos seus pais, sonham que, a harmonia familiar, é um direito que lhes assiste.

Muitas vezes, antes de algumas decisões serem tomadas, aquando desavenças entre progenitores, não deveriam ser salvaguardados em primeiro lugar, apenas os interesses deles progenitores, mas sim, os interesses paternais desses seres, que não tendo culpa de nascer, são as principais vítimas dessas irrefletidas decisões, ainda mesmo que, alguns sacrifícios daí adviessem para esses progenitores. Tudo se deveria fazer para que nunca faltasse a seiva, que alimenta essas flores em botão e que, a sua fragilidade nunca fosse beliscada pela incúria dos adultos.

José Miguel Alves